Eu até já tinha o título, parafraseando um sucesso (?) do Lenine. Hoje eu vou correr só. A ideia era estar naqueles 4’50” de pace quando a bola estivesse pra rolar no Itaquerão. Aquela hora em que a cidade para, suspensa, esperando o gol.
Um momento de raríssima quietude, coisa que não vemos nem nos horários mais obtusos da manhã. Perfeito para correr, onde quer que fosse, no Minhocão, na Usp, no Anhangabaú, na Favela do Moinho.
Coisa de magia, sei lá.
Bem, essa era a ideia, mas acabei por adiá-la para esta manhã, quando atropelei uns 14K, metade deles no parque Villa-Lobos.
Com duas filhas de 9 e 5 anos praticamente estreando em Copas – na da África do Sul Vitória ainda não tinha muito envolvimento com o fut -, eu, como pai, como no slogan, tinha que participar.
A gente já tinha dado uma boa volta de carro pela manhã, quando fui buscar um cabo para uma TV francesa (outro post eu explico) pra lá da Vila Formosa, e o clima do comércio popular finalmente tinha entrado no Vai ter Copa.
Eu já tinha me surpreendido com as reações das minhas filhas num jogo da Portuguesa, mas dessa vez elas extrapolaram.
Logo aos 10 minutos, o gol da Croácia desencadeou um choro intenso de pelo menos outros dez minutos. Argumentos de que o Brasil tinha muito tempo para empatar e virar não fizeram qualquer efeito.
De onde vem essa intensidade? Não houve prólogo para elas “entenderem” a Seleção. Não viram os Jogos da Copa das Confederações nem qualquer amistoso. Também não preencheram nenhuma página do álbum da Copa – Grécia e Alemanha estão quase lá, mas do Brasil elas só têm o Ramires e o David Luiz, acho.
O choro delas de alguma forma ecoou o meu, em 1982, a mais sentida lástima da minha vida até então. Um vazio digno do moleque da capa do Jornal da Tarde.
Eu lembro do meu argumento: “Em 1986, aos 19 anos, eu não vou estar nem aí pro futebol.”
Como vi, eu estava enganado.
Ainda assim, espero que elas não passem pelo que eu passei.
Paulo, como é gostoso ler os textos que você, Júlia e toda a turma assina aí no JCQ (perdoe-me chamá-los somente pelo nome, mas considero vocês tão essenciais – e da família – quanto o par de tênis e o frequencímetro. Continuem assim: atropelando quilômetros e presenteando esse “jornalista-fã-e-que-também-corre” com essas incríveis crônicas, dicas e matérias (muito) bem humoradas.