Estreante na corrida sobrevive e reclama da medalha

Julia Zanolli

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Felipe Zylbersztajn é Corinthians, apesar do sobrenome de conde polonês. Humildade, lealdade e procedimento- disse que ia correr os 5K, caiu da cama no domingão e foi. Se atrapalhou um pouco na burocracia da coisa, mas arriscou ultrapassagens perigosas e acelerou mesmo quando o coração estava na boca. Abaixo, ele conta como foi e faz uma reclamação bastante pertinente sobre a qualidade das medalhas das corridas de rua.

Ontem eu fiz a minha primeira prova de corrida. E gostei. Foi assim:

PRÉ-PROVA
A minha maior preocupação antes da corrida era pegar o tal do chip que marcaria o meu tempo. Entrei na fila e ganhei um envelope pardo com o meu nome. Achei bacana, um lance meio “top secret” que eu não esperava. Aproveitei para perguntar para a funcionária da organização onde seria “a saída”. Ganhei um olhar de reprovação. A minha adorável esposa foi a responsável por desfazer o mal-entendido: “largada”, ela disse para a moça, que nos apontou o caminho rolando os olhinhos.

“Largada”, poxa. Claro que eu sabia dessa. Deve ser o nervosismo, pensei. Sentamos numa muretinha. Abri o envelope com o chip, que eu imaginava ser algo do parecido com uma peça de computador. Não era. Trata-se de um pequeno retângulo de plástico que lembra o crachá que uso na firma. A diferença é que ele tem quatro furos por onde se passa o cadarço. A Yara (que acordou cedinho para me acompanhar) se prontificou em colocá-lo no meu tênis. Dei alguns passos e a coisa logo se desamarrou. Então saquei que o lance era prender antes de dar o laço. Fácil.

Ainda restava meia hora para a prova e comecei a prestar atenção ao pessoal se alongando. Eu tenho a minha rotina de alongamento básico, mas a rapaziada tem uns movimentos muito loucos. Aproveitei para imitar um sujeito que tinha a silhueta de um corredor tatuada no tornozelo, o que me pareceu uma evidência razoável para confiar nele. Chegou uma hora em que ele afastou as pernas, baixou e começou a torcer o tronco em posições improváveis. Deixei quieto.

No palco, alguém comandava um alongamento coletivo, mas preferi ficar na minha. Logo, o pessoal começou a se dirigir para a largada e me meti no batalhão. Foi a hora mais nervosa para mim. Preparei o aplicativo no iPhone e coloquei a playlist no talo para entrar no clima. Aproveitei para tirar uma selfie.

Foi então que notei o chip no cadarço dos outros. Basicamente, são três estilos de amarração: =, x ou II . Eu só tinha passado o cadarço por dois furos. O meu estilo ficou assim: – No fim, deu certo.

Vi que o pessoal começou a gritar e baixei o volume dos fones. Algum animador pedia palmas para quem estava em sua primeira corrida. Nem tive tempo de ficar constrangido, pois já estava passando pela largada da minha primeira prova e eu queria me concentrar.

A CORRIDA
Eu vinha fazendo 5K a uma média de 6min/km e essa era a minha meta no Circuito das Estações.

Os primeiros instantes foram meio frustrantes, pois havia muita gente mais lenta que eu na minha frente (ok, constatar isso foi legal) e eu não sabia direito se havia algum tipo de “etiqueta da corrida” que eu deveria obedecer. Eu podia sair ultrapassando sem dó? Era educado pedir licença? Resolvi continuar na minha, sem agressividade, sentir o clima. Foi quando o aplicativo avisou no meu ouvido: você completou o primeiro quilômetro em 6’30’’! Mas se eu continuasse nesse pace, não iria funcionar.

Aí, meu amigo, não tive dúvida. Resolvi dar uma apavoradinha, mas sem prejudicar a minha resistência para o resto da prova. Fui metendo o pé na frente dos outros, subi na calçada para ultrapassar, peguei vácuo com uns corredores mais experientes. Quando o aplicativo informou o pace do meu segundo quilômetro, fiquei mais aliviado: 5’21’’. Agora, sim, poderia voltar ao ritmo que eu estava acostumado.

O que eu não esperava era ter de subir o Minhocão. Claro que eu recebi conselhos para dar uma conferida no percurso antes da prova, mas acabei deixando isso de lado. Quando a ladeira começou, muita gente preferiu caminhar. Eu não, apesar do frequencímetro apitar como um louco, segui firme para manter os 6 min/km.

Fiz o terceiro km em 5’57’’ e o quarto em 5’59’’. Entrar no último quilômetro foi uma sensação ótima. Estava me sentindo bem e vendo o Pacaembu ao fundo. Faltava pouco.

Foi quando comecei a ser ultrapassado. Todo mundo deu uma forçada final enquanto eu não tinha mais gás para acelerar.

Cravei o último km em exatos 6’00’’, segundo meu aplicativo. No site oficial, fiz os 5K em 30’48’’, com um pace médio de 6.09min/km. Tá valendo.

Zylber apresenta a prova de que ficou de olho no ritmo
Zylber apresenta a prova de que ficou de olho no ritmo

PÓS CORRIDA
É impossível acabar a prova sem uma sensação reconfortante de dever cumprido. E isso é muito bacana. Troquei o meu chip por uma toalhinha e uma medalha, peguei um isotônico e caminhei com a Yara em direção ao carro estacionado. Chegando em casa, fumei um cigarro orgulhoso e tomei um banho gelado como um campeão.

BALANÇO FINAL
Do que eu gostei: ter uma prova no calendário me forçou a treinar com mais atenção, a coisa toda é muito bem organizada e passar pela chegada é o tipo de coisa recompensadora que eu não tenho durante os treinos. Muito gratificante mesmo.

Do que não gostei: a lerdeza nos primeiros metros, os gritos de incentivo no estilo academia de ginástica (acho de uma animação artificial e meio constrangedora) e da medalha. Poxa, essas medalhas modernas são meio frustrantes. Queria uma daquelas clássicas, redondas e douradas ou prateadas.

Mas no fim do dia, valeu muito a pena. Já penso na próxima, ainda de 5K. Até o fim do ano farei uma de 10K, pode anotar aí.

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Julia Zanolli

Julia Zanolli começou a correr em nome do bom jornalismo quando foi trabalhar na revista Runner’s World sem entender nada do assunto. A obrigação virou curtição, mesmo depois de sair da revista. Se livrou do carro para poder andar a pé pela cidade, mas é fã assumida de esteira. Prefere falar de comida do que de nutrição e acha que ter tempo é muito melhor do que matá-lo.

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