Um Cubano entre nós

Paulo Vieira

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Daniel Suarez, 46 anos, está no Brasil desde 1996. “Cubano”, como é conhecido, é mesmo de Cuba e acha tempo para ensinar handebol em Mauá, São Bernardo, onde mantém um projeto de cunho social, e no Centro Olímpico do Ibirapuera, em São Paulo. Com a recente polêmica a respeito dos médicos cubanos no Brasil, o Jornalistas que Correm foi atrás dessa estrela do esporte olímpico cubano – e brasileiro – para ouvir o que ele tem a dizer sobre esse tema e outros.

MÉDICOS CUBANOS

Estou muito chateado com a recepção dos brasileiros. É preciso conhecer esse tema. Cuba, um país de 11 milhões de habitantes, mesmo com o bloqueio econômico, é capaz de formar 6 mil excelentes médicos por ano. Isso me deixa orgulhoso de meu país. E, em Cuba, o médico cuida do ser humano. Nosso programa de médicos da família é reconhecido mundialmente. Eles estão aqui por ser solidários, por não se preocuparem com dinheiro. Deve-se reconhecer o que Cuba faz. Os médicos brasileiros não querem nem ir para a periferia das grandes cidades, e os cubanos não se importam em ir para qualquer lugar.

CUBA
Deixei Cuba porque vim fazer um intercâmbio aqui e acabei conhecendo minha mulher no Brasil. Minha situação com Cuba é legal. Tenho um filho de 25 anos lá, mas não tive condições econômicas de trazê-lo para o Brasil. Nasci na Revolução, e sinto amor pelo meu país. O que sou tem a ver com a Revolução, pois em Cuba tive a possibilidade de me tornar um atleta de alto rendimento, coisa que está ficando cada vez mais difícil agora, inclusive pelas dificuldades alimentares no país.

MÉTODO DE TRABALHO
Exijo disciplina, mas disciplina não é militarismo. Trabalho muito com meninos de 13 e 14 anos, por isso tenho de cuidar da parte educacional. Sou um realizador de sonhos de atleta, mas a escola vem primeiro. Se as notas andam ruins, se o boletim está mal, sento e converso. Não é com punição que se resolve nada, é preciso fazer o papel de treinador. E se os pais decidem afastar o filho do handebol para que ele se dedique aos estudos, tenho de acatar.

CORRIDA
Acho correr, ou caminhar, essencial para qualquer pessoa. Mas ao menos três vezes por semana, porque ser sedentário e se exercitar apenas no fim de semana é mais lesivo do que não fazer nada. Eu tenho o hábito de correr todo dia uns 25 minutos, mas acho que diversificar também é bom, fazer pilates, natação… Mas se você está começando agora, consulte um médico, faça um ecocardiograma, veja a quantas anda o colesterol. Depois monte um plano, ache seu limiar e vá aumentando sua rotina de treino semanal.

JAMAICA X CUBA
A situação econômica em Cuba é muito ruim, então é natural que não nos destaquemos mais em muitos esportes. A Jamaica desenvolveu o atletismo, mas só o atletismo. Cuba sempre se destacou nos 32 esportes olímpicos. Não teremos mais um Javier Sotomayor (campeão olímpico de salto em altura em 1992 e mundial em 1993 e 1997). Não conseguimos mais formar atletas de alto rendimento. Falta-nos intercâmbio com outros países e até boa condição alimentar para os esportistas. A questão econômica hoje é muito problemática.

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Daniel Suarez, o Cubano/Foto: Renata Simond/Prefeitura de São Paulo

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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