A companheira Isadora Pamplona, que, se esquenta cadeira em algum lugar, é apenas nos jatos da Ryanair e da EasyJet, pediu, se deslocou e tem a preferência. É dela a palavra hoje aqui no JCQ. Vai que é sua, Isa.
Onde correr?, eis a questão.
Muitas vezes usei essa perguntinha cretina para justificar o meu próprio sedentarismo. A desculpa ia desde morar em um bairro cheio de ladeiras até não ter uma Beira-Mar para chamar de minha (uma tragédia, convenhamos).
Até que me vi numa cidadezinha no interior da República Tcheca perguntando para a recepcionista do hotel onde que se podia correr por perto. “Onde você quiser”, disse ela com um ar surpreso.
Confesso que nunca uma resposta tão óbvia me pareceu tão reveladora. Eu, do alto da minha sola com tecnologia de amortecimento, desautorizada pela recepcionista tcheca.
Depois desse episódio fatídico, parei de insistir nas tais condições ideais e tive muitas boas surpresas. Já corri em volta de pracinha (Bolotnaya Ploshchad, Moscou), em volta de uma pista de quartel militar (Dom Pedrito), em volta de cemitério (Consolação, São Paulo) e até em alto mar (calma, que foi dentro de um navio!).
Mas diria que minha maior descoberta foi o Tempelhof, um aeroporto desativado em Berlim que hoje serve como uma espécie de parque municipal. Lá a gente corre livre, em linha reta, quase voa. E no início de cada pista, tem até uma demarcação (foto) de quanto tempo se leva para percorrê-la de bike, de patins ou correndo.
Lógico que lugares assim são sempre um estímulo. O que aprendi é que o ato de colocar as pernas para trabalhar depende muito mais de “querer” do que de um entorno “run-friendly”.
Naquele dia da recepcionista, corri numa floresta montanhosa em pleno outono tcheco. Não era plana, não tinha pista. Definitivamente, não foi feita para correr. Mas como valeu a pena.
Isadora Pamplona é jornalista e fotógrafa baseada em São Paulo. Corre por onde passa desde 2010 e não conhece jeito melhor de fazer turismo.
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