Do que nós pensamos quando pensamos em corrida

Paulo Vieira

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Se falássemos aqui de futebol, eu certamente já teria lançado mão nos meus posts de algumas frases lapidares, provérbios e aqueles clichês que não morrem nunca. Mas eles dificilmente funcionam no mundo das corridas. Pátria de tênis estruturados? Circuito é circuito e vice-versa? Bem, “treino é treino, corrida é corrida” não é de todo ruim. E tem também o mais clássico deles, que guardei para a próxima linha.

Aqui está: o facebook do JQC é uma caixinha de surpresas. De ontem para hoje dobramos nosso número de curtidores. E isso sem fazer qualquer esforço. Mistério.

E por haver tanta gente nova – e boa – no barco agora, não custa, penso, reafirmar alguns princípios desta casa editorial e deste corredor à procura de uma boa luta (uma maratona) sem perder a ternura (uns birináites vez ou outra) jamais. Aqui vai a primeira parte das, digamos, leis que nos regem.

A FILOSOFIA DO JORNALISTAS QUE CORREM – PARTE 1
– Correr é bom. Correr é ótimo. Desde que você goste disso. E nem sempre é fácil gostar. Na dúvida, jogue frescobol.

– Correr exige disciplina. Certo. Mas se você pensar muito nisso e for um indisciplinado como eu, danou-se. A boa notícia: dá para achar regularidade na irregularidade. Correr duas vezes por semana é bom, correr uma, também, e, se for o caso, não se apequene por correr uma vez por mês. Mas não deixe de correr.

– Um jornalista que corre é antes de tudo um jornalista (que corre). Que adora vinho, cerveja, feijoada de boteco às quartas e sábados. E adora endorfina e pôr do sol entre as árvores da USP.

– Toda hora é boa para correr. Quer dizer, mais ou menos. Depende do calor, da poluição atmosférica, da inversão térmica. Consulte o meteorologista e o pneumologista à gosto, mas não se dê desculpas do tipo “Agora ficou tarde” (como eu às vezes faço).

– Correr é libertário. Sim, o negócio é entre você e você. Não precisa de ninguém mais para lhe passar (ou não) a bola; não precisa de roupas de neve ou óculos impermeáveis; não precisa, nem mesmo, de treinador, mesmo quando o objetivo for disputar uma maratona.

– Correr prescinde de objetivos. Ou, para não cair no silogismo, só não prescinde de um objetivo: prescindir de objetivos. Traduzindo: na hora que você buscar com a corrida algo – melhor tempo, melhor peso, melhor arrancada -, pode estar perdendo o caráter libertário da corrida.

– Esteira não vem com paisagem, mas pode estar à mão em dias de chuva, em dias de trânsito, em suma, em qualquer dia. E machuca menos. Não a abomine.

– Dar uma de dândi, que não tá nem aí para preparadores físicos, planilhas, tênis adequados e acordar cedo, é legal. Mas levar tudo isso em conta também é.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

3 Comentários

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    Lenir Campos

    Adorei o artigo. Eu também sou jornalista e corro regularmente nas ruas de Formiga/MG há menos de um ano. Apesar de competição não ser o meu objetivo, nesse período participei de três corridas rústicas e ganhei três troféus. A corrida é o esporte perfeito pra mim, que não abro mão da minha independência e liberdade. Corro quando quero, na hora que quero (posso) e aproveito os momentos para refletir sobre tudo!

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    • paulo vieira
      paulo vieira

      Sensacional, Lenir. Estive em Formiga uma vez, se não me engano na época em que caiu aquela ogiva, uma bala gigante, de uma avião militar. Viajarei a Tiradentes por esses dias e espero encontrar umas montanhas boas para “refletir” também.
      Obrigado por nos escrever. Abração.

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  1. Para ler e correr | Jornalistas que correm

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