Correr para o abraço… da Minnie!

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Correr, pra mim, sempre foi mais do que exercício. Um pouco vício, um tanto divã, um santo atalho pra mente sã. E desde a adolescência, lá ia eu… Lutando contra os limites, lubrificando os pulmões com o cheiro de mato, ludibriando a fadiga com os desenhos, em três dimensões, que o sol expõe ao se pôr… Correr, pra mim, nunca foi sinônimo de competição. Sempre foi companhia, usina de soluções e sensações.

Sem pressa. Sem pressão. Eu simplesmente calçava os tênis e saía rua afora. Em qualquer lugar. Independente da estação. Lembro de correr em parques gigantes, nas férias em Osaka, metrópole do Japão. Ou no calçadão, em Honolulu, onde o mar e o céu respingam o mesmo tom. Nas quadras pontualmente planas de Orlando, entre mansões, lagos e campos de golfe. Às margens da ferrovia, chamuscada pelo frio de doer do inverno alemão. Aonde eu ia, corria.

Correr, se pensarmos bem, é da nossa natureza. Se olharmos nosso corpo, a quantidade de dobraduras que temos, o dom das pernas de amenizar o impacto, os olhos no alto, como um farol, a capacidade dos braços pra gerar impulso, só podemos nos convencer que não fomos moldados pra almofada. Haja trabalho ou faça férias, meu corpo confirma a vocação humana: clama por deixar o assento; chama por movimento… Em nossa última viagem para o exterior, no ano passado, não foi diferente.

Honestamente, embarquei como acompanhante. Meu marido já tinha inscrição confirmada na Meia Maratona da Disney, na gélida madrugada de Orlando, e minha filha, então com seis anos, estava inscrita na Kids Race, também da Disney, no Wild World of Sports. Nos bastidores, cumpri minhas metas com louvor: ajudei com a comida, kits, muitas fotos e mais torcida ainda.  Mas na hora H, adivinha quem levou a medalha?

Como mulher apaixonada e mãe dedicada, comemorei comovida, como se aqueles lindos brasões, do Mickey e do Pato Donald, estivessem pendurados no meu peito. Mas na verdade, tudo o que me pertencia era a vontade de correr… Ao embarcarmos em seguida no Cruzeiro da Disney, pra uma semana entre Grand Cayman e as Bahamas, fui pontual na academia. Treinei todos os dias. Na esteira e na pista do deck do quarto andar. Até que a saideira, quem diria, me recompensaria.

Na última escala do navio, na ilha particular da Disney, em Castaway Key, tudo conspirava a favor do ócio: centenas de espreguiçadeiras debruçadas sobre a areia, boias gigantes, lindas lojinhas e o mais tentador fast-food pra visitar à vontade. Mas não pensem que me rendi. Logo descobri uma corrida – organizada como manda o figurino – pelas áreas virgens daquele éden. Com cronômetro, placas indicativas, monitores, número no peito, diploma personalizado e, acreditem!, medalha do Mickey.

Cinco quilômetros mais tarde, na foto oficial com a Minnie, cada centímetro (per)corrido se justificou. Finalmente, oficialmente, eu também poderia pertencer à família de atletas que tenho em casa… Fiquei feliz. Voltei inspirada. E certa de que o caminho que venho trilhando tem destino certo: independente de inscrições e competições, só tenho a ganhar saúde me exercitando, sondando meus limites, sentindo a respiração, saboreando passo a passo o compasso virtuoso em que bate o coração.

Ana Lavratti – jornalista e escritora, comanda o escritório de comunicação Informação, em Florianópolis. Apesar da “correria” como profissional e da rotina corrida como mãe da Lara, dedica cada folguinha a… correr.

Ana Lavratti 2

 

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