Delírios, gente bacana, bauru e chope num treino no Minhocão

Paulo Vieira

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O Minhocão à noite. Foto de www.flickr.com/photos/cbnsp
O Minhocão à noite. Foto de www.flickr.com/photos/cbnsp

Já tem programa para logo mais à noite? Pois então aqui vai uma sugestão: Minhocão. Como muita gente sabe, o Minhocão, notável obra de Maluf, oficialmente Elevado Costa e Silva, fecha para os carros às 21h30 para só reabrir na manhã seguinte. Pois ontem fui fazer uma coisa que eu jamais havia feito: correr ali à noite.

Sim, o Minhocão não tem uma mísera árvore e os prédios do entorno, que parecem estar a um braço de distância, não são exatamente uma unanimidade em termos de arquitetura. O próprio Minhocão ajudou a deteriorá-los, pois os carros viraram vizinhos barulhentos e indesejáveis de seus moradores, que foram dando lugar a outros de menos posses. Bem, isso é conversa para cadernos de cidades, não para este blog.

Minhocão aos finais de semana, livre para corredores. Foto de www.flickr.com/photos/yvoninha
Minhocão no fim de semana, livre para corredores.
Foto de www.flickr.com/photos/yvoninha

Voltando, então.
Corri ontem exatamente 1h18’31”. Prazerosos 1h18’31”. Dei duas voltas completas no MInhocão mais um trecho de ida e volta entre as Perdizes e o Largo de Santa Cecília. Pelo meu ritmo normal, seriam cerca de 16 quilômetros. Mas ontem peguei forte e acho que superei os 17K.

Deixei de contar quantos corredores havia ali lá pelo vigésimo. Uns deles em ritmo forte, abrindo distância, outros mais recreativos. Havia também muitos ciclistas, uns 10 cachorros com seus donos, um grupo que projetava fotos modificadas com um projetor num prédio, duas mulheres que ensaiavam passos de balé, garotos jogando bola e grupos conversando animadamente. Éramos mais interessantes, imagino, que o cenário do interior dos edifícios, apartamentos invariavelmente fechados para os nossos olhares. Se eu morasse num deles, aliás, desceria ao Minhocão correndo. Pena que não dá para pular e cair lá, é preciso subir por um dos quatro acessos.

Se você pretende correr lá, cuidado ao trocar de pista (sentido), pois há bueiros destampados nas aberturas da muretinha que separa os fluxos de trânsito. E leve seu cartão de crédito. O Ponto Chic está a passos da saída do treino. Vai ser difícil resistir à água, ao chope e ao bauru. Se eu começar a correr ali mais vezes, vou precisar de um patrocinador. Só ontem deixei 35 pratas lá.

(Tive uns pensamentos meio delirantes no começo, achando que vivíamos numa cidade sem carros, pós bomba de neutrons, achando que éramos meio formigas no MInhocão, dominando o espaço destruído. E garanto que ninguém me ofereceu aquela coisa de cheiro forte que se consome ali).

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

2 Comentários

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    Renato Muller

    Corri algumas provas no Minhocão (Meia de SP, Circuito das Estações), e sempre me peguei pensando na sensação deliciosa de “tomar o espaço” dos carros em um lugar tão pouco sociável. Nos meus devaneios movidos a endorfina, surge sempre um negócio meio quixotesco de “reconquistar a cidade perdida”…

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    Danilo Vivan

    Por mais que seja deteriorado a entrada fica muito perto do meu prédio, quase minha pista de treinos particular, especialmente nos domingos. Ah, e como o bairro de Perdizes é super povoado de jornalistas, nada mais apropriado que sugeri-lo como dica para os treinos aqui neste blog. Parabéns pela iniciativa.

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