Transpatagônia, o livro

Paulo Vieira

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Ter pedalado na Patagônia sozinho por seis meses sob chuva e vento enregelantes e vivendo à base de enlatados em acampamentos selvagens não foi, nem de longe, a maior provação vivida por Guilherme Cavallari, meu heroi, nosso heroi, o príncipe de Gonçalves, o paraíso da Mantiqueira.

O pior ainda estava por vir. De volta à base, comeu o verdadeiro pão que o coisa ruim amassou ao adaptar seu copioso diário de bordo, que publicava regularmente durante a viagem em seu site, para o antigo, vetusto, antediluviano formato de livro.

Livro que ele lança no dia da graça de 14 de maio, próximo futuro, à noite, na loja de livros de arte da Livraria Cultura, sito no Conjunto Nacional, avenida Paulista, Pauliceia Desvairada.

Mas já dá para comprá-lo por aqui – e eu não levo uma pataca das 60 pratas pedidas, infelizmente.

Um autor à espreita
Um autor à espreita

Acompanhei em parte o processo, às vezes dando uns pitacos de estilo e fluência, e ouvi seguidamente ele dizer coisas do tipo “Não mexo mais nesta p*”. Se ele não disse exatamente nesta p*, perdoem-me, vocês e ele, o exercício incansável e vigilante do jornalismo estrito senso.

O livro, numa palavra, ou melhor, em duas palavras, é inspirador. Ali não está mais um relato da quase sempre tediosa rotina de alguém se defrontando com a natureza extrema, mas um mergulho sem tréguas na psiquê cheia de dúvidas de um sujeito que viveu razoavelmente bem até seus 50 anos.

Traduza “viveu bem” por “ter feito a vida do jeito que mais ou menos quis fazer”, sem faculdade nem carteira profissional, para citar dois exemplos comezinhos. E o tal mergulho sem tréguas na psiquê, que clichê, Deus, calhou de ser na Patagônia, com aqueles ventos desgraçados, e calhou de ser sobre o  selim de uma bicicleta.

Teria sido essa viagem divisora de águas? Temos nossas dúvidas, eu e ele, e o livro nem sempre ajuda a dirimi-las. Também não foi um simples fetiche, uma maratona num dia de domingo.

O livro vem a lume após a conclusão do documentário Transpatagônia, também sobre sua tormentosa expedição patagônica, produção que ganhou o prêmio do juri popular do Festival Rio Mountain Festival de 2014.

 

 

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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