Sim, o título é direto e descreve exatamente sobre o que será esse texto: uma tentativa de sequestro. Eu não pretendia escrever muito durante as férias, porém, a história que contarei a seguir é tão absurda, que merece ser registrada antes da volta para casa.
Conforme compartilhei com vocês nos posts anteriores, eu embarquei há quase duas semanas para a Nova Zelândia, porém, como não há voos diretos desde o Brasil, fiz conexão no Chile e aproveitei para apresentar a capital, Santiago, ao meu marido. Saímos do aeroporto apenas com nossas mochilas, já que voltaríamos para lá no fim do dia e a ideia era ir a um restaurante e visitar o bairro de Bela Vista, que guarda algumas preciosidades, como uma das casas de Pablo Neruda e o Cerro San Cristobal.
Fizemos tudo isso, a princípio, usando o transporte público: do aeroporto pegamos um ônibus até o metrô e depois andamos muito a pé também. Por vaidade, optei por sair com uma bota, que não era a minha Timberland, mas sim uma dessas bonitinhas, que lembram as de amazonas, sabe? Afinal, iria só andar pela capital chilena durante um dia, né? E o passeio foi realmente muito agradável, tanto, que até troquei olhares com o poeta chileno.
Na volta para o aeroporto, seguimos a lógica e fomos para a mesma estação de metrô da ida, a fim de pegar o ônibus direto. Ele, porém, não passava lá, e, para evitar a fadiga de entrar em mais um metrô – que estava particularmente cheio naquele sábado a noite -, eu e meu marido decidimos pegar um táxi ali mesmo. O trajeto não duraria nem 15 minutos e os pesos chilenos que tinham sobrado eram mais do que suficientes para pagar a corrida.
No táxi, começamos a ser evangelizados pelo programa de rádio onde um pastor gritava para os fiéis o Salmo 91 ” Mil cairão ao teu lado, dez mil a tua direita, mas tú, servo amado, não serás atingido”. O taxista perguntou se éramos cristãos, eu respondi que sim e tentei emendar com meu limitado espanhol, explicando que somos evangélicos. Ele quis saber se já tínhamos entregado nossa alma a Jesus. A pergunta parecia fazer sentido naquele contexto, mas ganharia traços sórdidos depois. ” Sim, nós já entregamos a nossa alma a Deus”.
Não demorou muito, o taxista ligou para alguém e, estranhamente, compartilhou o itinerário que faria até o aeroporto. Ok, pensei que a pessoa do outro lado da linha deveria estar o esperando e ele fez aquilo para dar uma ideia do tempo que demoraria. Porém, ao chegar na entrada para o aeroporto, ele não virou a direita, como deveria, e seguiu na auto estrada dizendo que havia errado o caminho. Ok, mais um taxista querendo ganhar dinheiro as custas dos turistas, paciência. Mas ele também não pegou o retorno e, mais do que isso, entrou em uma “quebrada”.
Quebrada, pra quem não sabe, é um jeito de chamar a periferia mais “pesada” e, não, eu não estou sendo preconceituosa, até porque a minha “quebrada”, a Brasilândia, já foi a mais perigosa do Brasil e nem por isso eu sou pior ou melhor do que as outras pessoas. Voltando ao taxista, ele começou a perguntar coisas para nos assustar, do tipo “vocês não sabem onde estão, não é?”. Não, nós não sabíamos, da mesma forma como ele não poderia imaginar a nossa reação. A essa altura, eu e meu marido já tínhamos certeza que aquilo não era só uma cara corrida para o aeroporto. Com quem, afinal, o motorista havia falado ao telefone e não parava de mandar mensagens?
Não pagamos pra ver, nem o que estava no taxímetro. Assim que ele parou em uma intersecção, ao tentar entrar em uma outra rodovia – que nada tinha a ver com a do aeroporto -, eu em meu marido saímos correndo do táxi com as mochilas. O taxista tentou vir atrás de nós pela contramão, porém, um outro carro arrancou com tudo, batendo no táxi e o impedindo de chegar onde estávamos. Aproveitamos a confusão para descer uma ribanceira, chegando em outra rodovia, onde corremos e pulamos muretas de concreto, de aproximadamente 1 metro de altura entre as faixas, até encontrar a entrada para a auto pista que acreditávamos ser a correta.
Corri com bota, de camisa, com uma mochila pesada nas costas e entre carros em altíssima velocidade e buzinando. Corri com medo de que o taxista viesse atrás de nós, que mais motoristas mal intencionados quisessem “nos ajudar”, que alguém embriagado nos atropelasse… Mas com uma certeza persistente de que conseguiríamos chegar no terminal a tempo. Meu marido, que estava de tênis, ia na frente e, ao ver a placa ” AEROPORTO ZN EMPRESARIAL” quase perdeu a fé, pensando que se tratava de um aeroporto pequeno e não do internacional. Mas eu o fiz acreditar que a placa, na verdade, significava duas coisas distintas, do aeroporto e da Zona Empresarial, que ficavam na mesma direção. Ele recuperou a esperança e continuamos a correr.
Foram 3km até que um carro parou. Não por nós, mas para pegar informações em papéis que estavam no banco de trás. O motorista, também taxista, só que luxo, ficou bem reticente com a nossa aproximação e só abriu o vidro quando mostramos o passaporte. Ele topou nos levar até o aeroporto por salgados 30 dólares, mas que, a essa altura, pareciam quase nada. Ao chegar ao terminal, desabei em um misto de choro e alegria. Só no avião eu senti o meu joelho reclamando e me dei conta que, se não tivesse começado a treinar no início do ano, jamais teria conseguido fazer tudo aquilo. Ao lembrar da corrida de tiro com saltinho, me senti uma bondgirl e ri aliviada.
Em São Paulo, no mesmo horário, minha mãe ficou sem voz e sentia-se estranhamente indisposta. Enquanto em Brasília, minha sogra passava mal em um culto, no que o pastor fez uma oração de libertação que dizia “Mil cairão ao teu lado, dez mil a tua direita, mas tú, servo amado, não será atingido…”. Deus abençoe e proteja a nossa corrida, pelas ruas e pela vida.
Fico muito feliz que tudo terminou bem,afinal Deus colocou muitos anjos para guerrear por suas vidas,enquanto vcs corriam,as espadas não paravam,admiro muito o casal,e estou amando acompanhar essa viagem,bjss
É maravilhoso ver como Deus age…até nas horas mais difíceis…
na hora do desespero é difícil, mas vocês deveriam ter denunciado o taxista, claramente ele havia feito isso antes, e vocês devem ter sido os primeiros a se safarem.
Denunciado como? Iriamos parar pra anotar a placa do carro s depois fugir? Mas concordo com vc que devemos ajudar outras pessoas a não cairem nesse golpe e, para isso, estou escrevendo outro post com dicas direcionadas aos viajantes no http://www.viagemevoo.com 🙂
Mas vocês viram o cara, e um carro tinha acabado de bater nele pelo que você disse, talvez até desse para polícia encontrar o cara. Mas não é crítica, impressionante o que vocês fizeram, Tom Cruise style. Acho que isso deve acontecer com bastante frequência, e ninguém da polícia deve se preocupar muito, e iria fazer pouco caso de qualquer jeito.
Deus guardou vocês, que Ele continue protegendo vocês nesta viagem. Aproveite bastante!
Continuaremos em oração, vocês são nossas joias de maior valor. Deus é fiel!
Literalmente uma jornalista que corre.
Mano que história absurda!
Enfrentar uma situação desta em um país que não é o nosso a torna ainda mais dramática.
Torço pra que esteja td bem com você e o Marco.
PS: Esse relato acabou de resolver uma parte de um roteiro que estou escrevendo.
Jesus amado… glória a Deus que vocês estão bem.
Já não bastasse o Marco Gomes ser um empresário prodígio gênio, tem como esposa uma excelente escritora. Curti muito ler o relato.
Deus abençoe e a Paz!
Oi, Talita
Meu nome é Sammia, não nos conhecemos pessoalmente mas temos coisas em comum (sou evangélica e também da Brasilândia) e até dois amigos (a Mah e o Leandro, que foram meus padrinhos de casamento).
Enfim, escrevo pra dizer que sigo o Marcos no FB e por ele encontrei seu blog e li este texto glorificando a Deus pelo livramento. Estou lendo um livro sobre intercessores da Bíblia e sinto de te deixar a lembrança do livramento de Sadraque, Mesaque e Abdnego (Dn 3.25).
Beijos e voltarei mais vezes 😉
Jornalistas tem a obrigação de ser laicos!
Uma referencia casual a sua religiosidade pode ser aceitável,
Mas um libelo de “libertação”, acredito, deve estar em imprensa
Especializada
Uma pena! Gostava muito do seu texto.
Nao posso recomendar mais…
Que tal” evangélicos que correm”
Discordo. Jornalistas não têm a obrigação de ser laicos, é o mesmo que defender (em vão) que o jornalismo é imparcial. Não é, nunca foi, nem nunca será. Podemos apenas esperar que o jornalista apresente mais de uma versão do ocorrido e levante dados que possibilitem uma reflexão mais ampla do leitor.
Além disso, esse texto não é uma reportagem, mas sim um relato extremamente pessoal de algo que aconteceu comigo. Não pretendo com ele fazer um retrato dos “sequestros feitos por taxistas no Chile”, só contar algo que aconteceu comigo e com meu marido. E se eu acredito em Deus e acho que a fé foi algo determinante nessa situação, não vejo problema em colocar no texto. O fato do leitor ter uma religiosidade diferente, não o impede de entender o que está escrito, nem tira a credibilidade de nada do que foi dito.
Impressionante o relato, mas concordo com o amigo aí. Deixou de ser um texto jornalístico, do mesmo modo que deixaria de ser se o Jornal Nacional deixasse subentendido que a goleada para a Alemanha ocorreu porque um tal Naô de Ogum havia previsto isso no Candomblé. Tirando isso, agradeço pelo texto, pois já estive em Santiago e nunca imaginei uma história dessa. O pior é que o Rafael ali em baixo passou pela mesma situação e não conseguiu se safar como vocês. Pelo jeito Deus não quis ajudar ele tanto assim… ou só um pouco, para ele sofrer mas não morrer.
Talita, querida!!! Só podemos acreditar em algo superior, que nos guarda, que nos protege…não te explicação…e Deus faz td certinho, sua preparação com o treino anteriormente…é….sem palavras!!!!
Obrigada por compartilhar sua experiência, certamente será importante para alguém ler isso…
Bjs!!!!!
Para variar, nao conseguem lidar com opiniões diferentes!
O nazismo começou assim!
Aberto a discussão……
Estou de férias na Nova Zelândia, conforme descrevi no texto, são 17 horas de diferença, seu primeiro comentário foi feito durante a madrugada daqui, espero que entenda que isso não é uma “censura ideológica ou religiosa”, só uma questão biológica mesmo, não tinha como aprovar e responder aos seus comentários dormindo.
Porém, como disse lá em cima e no post, estou de férias, não vou participar de nenhuma “discussão” nesse período, a menos que seja com um maori, sobre a invasão dos ingleses.rs
Mas respeito sua opinião, e reitero que o blog é formado por mais jornalistas que correm, ou seja, se quiser fazer um filtro e ler os textos apenas do Paulo – o mais laico dos homens – acharei compreensivo.
Até mais,
Talita
Obrigado pela resposta!
Acho que seu ponto de vista é muito claro, embora que não concorde pessoalmente.
De toda forma, como o veículo é público, está sujeito a críticas.
Opinião pessoal, assim como a sua, tem que ser respeitada.
Continuo leitor, pelo “fair play”demonstrado.
Até a próxima
Estranho isso acontecer em Santiago, nunca tive problemas lá, acho que vocês foram premiados. Já em Buenos Aires passei por algo semelhante, só que bati boca com o motorista e ele me expulsou do táxi. No meu caso o golpe ia acabar em extorsão. Muito cuidado mesmo com La Paz, lá eles mantêm os turistas em cativeiro até limpar o cartão e a conta, depois somem com você.
me desculpe, mas essa é uma história de policia, não de fé.
Quer dizer que esse deus não tem misericórdia pelas outras pessoas e escolhe a dedo que merece ou não ser sequestrado? Quem sabe o motivo de deus não salvar milhares de crianças que estão morrendo de fome na áfrica seja pq ele está cuidando de algumas pessoas específicas.. ou talvez ele seja um sádico. Cada vez que alguém se dá bem em alguma situação adversa e usa algum argumento teológico ao meu ver é como se estivéssemos na idade média.. mas tudo bem, cada um tem o direito de acreditar na fantasia que mais lhe agrada.
Seus textos são muito bons, mas esse foi um tanto quanto evangelizador demais..
abração
Olá, Marcos, compreendo que você não compartilhe da mesma fé e, por isso, tenha escrito o comentário desta maneira – baseada no seu ceticismo. Da mesma forma, acredito que você entenda que o fato de eu acreditar em um Deus muda sim o jeito como eu interpreto e vivo as situações e que isso faz parte do meu direito de ter e viver a minha fé.
O texto, sinceramente, não tem a intenção de evangelizar ninguém e, repito, é apenas um relato pessoal do que aconteceu comigo, descrito da forma como eu o vivi e o enxerguei. É claro que há outras interpretações e não há problema algum em abordá-las.
Bj
Não sei por que esse pessoal se incomoda tanto quando vêem alguém agradecer a Deus por uma cirurgia bem sucedida ou por um livramento como este de vocês! O pior é que se alguém diz que o “universo” conspirou a favor para que tudo ocorresse bem na cirurgia ou para que se livrassem do perigo, aí sim está tudo bem. Como se o universo não fosse o próprio Deus!
Tolerantes são os cristãos mesmo.
Ótimo texto Talita. Aproveite bastante e volte renovada para continuar nos brindando com seus textos!
Talita,
Passei por algo muito parecido em Março desse ano, mas infelizmente não tive a sorte de vocês. Depois de ser assaltado vieram pelo menos 3 pessoas para me bater, e daí só me lembro de acordar no dia seguinte em um hospital público de Santiago e com sequelas que provavelmente carregarei pro resto da minha vida. Tive muita sorte de sair vivo dessa, e pelo visto vocês também. quando conto a minha história, todo mundo acho que sou louco ou que estou inventando, porque esse tipo de coisa não acontece no Chile!
Parabéns ao casal, ótima iniciativa ao perceber o que ocorria e final mais que feliz. Sucesso aos dois!!!
Puxa deu ate arrepio esta historia, parece coisa de novela ou filme. Mas Deus é maravilhoso mesmo. Felicidades para vocês!