Durma com um barulho desse: domingo é dia da maratona Nilson Lima, a minha décima – a dele, a quase 300ª

Paulo Vieira

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Depois de um longo e tenebroso inverno – ou por outra, já que neste momento faz 9 graus lá fora: durante um extemporâneo e tenebroso inverno – eis que volto a encarar o cascalho para a décima maratona da minha vida.

Já nem lembrava mais quando alinhei para meus últimos 42K, mas nada que um simplérrimo motor de busca não possa resolver. Foi em julho de 2019, tempo em que João Doria ainda não se constrangia em fazer flexões abdominais sob comando do ainda hoje presidente da República – e pior, não se constrangia em exibir o show capcioso mais tarde em suas redes sociais.

Mais do que isso, era um tempo que não se imaginava, nem na ficção científica mais delirante, o buraco em que a humanidade meter-se-ia uns mesinhos depois.

Meus últimos 42K foram aqui mesmo em Essepê, a mara SP City, da organizadora Iguana, de cujos registros este pasquim mantém vivos e chutando – veja abaixo:

JQC NA SPCITY 2019 – IMPRESSÕES SUADAS

 JQC NA SPCITY 2019 – ENTREVISTAS SUADAS

A MARANILSON DE 2018 

A MARANILSON DE 2018 – ENTREVISTAS SUADAS

Muito bem: neste domingo (22) volto ao Triângulo Mineiro, à pujante Uberlândia, para a maraNilson, a maratona que leva o nome do uberlandense (é esse o gentílico mesmo, Nilsão?) Nilson Lima, que, caso não tivesse sofrido um pequeno acidente doméstico outro dia, estaria celebrando na data a 300ª mara de sua vida.

Sim, o cabra já correu 295 provas de ao menos 42K – na conta há umas coisas mais cabulosas tipo a sul-africana Comrades (de 90K) e uns reality shows que chamam erroneamente de corridas, mas que exigem malabarismos como pendurar-se em cordas e escalar pirambeiras andinas.

Nilson Lima (de amarelo) e alguns figurantes na mara que leva seu nome edição 2018

Com isso, o confrade sexagenário acabou por se tornar uma pequena lenda brasileira, e a corrida de Uberlândia um evento disputado a tapa pelo circuito amador brasileiro. Disputado a tapa não é uma expressão tecnicamente precisa, já que as inscrições para a maraNilson não acabam em segundos como, digamos, as da mara de Boston, mas a tigrada faz questão – pronuncie “questão” com trema – de ir lá celebrar com o Nilson.

E o Nilson faz mais questão ainda que a gente vá, e inclusive descola umas gratuidades na inscrição – meu caso em 2022. Valeu aí, brow.

Eu corri “UDI” em 2018, e posso dizer que nem Rio, nem Essepê, nem POA – ainda que eu jamais tenha corrido em Porto Alegre – tem a atmosfera de Uberlândia.

É lá que os maratonistas amadores brasileiros se sentem em casa, como se a maraNilson fosse aquele evento religioso ou cívico que enseja a reunião de parentes distantes que só se veem justamente naquele dia.

(É aí o povo aproveita para fazer umas coisas do arco da velha: o Cracrá, lá do Recife, por exemplo, irá correr 84K no domingo.)

Tudo isso para dizer que há tempos não ultrapasso os 25K – a última vez que isso se deu foi em Boston, em novembro, e foi justamente por causa do Nilson. Explico abaixo:

MINHA PRIMEIRA VEZ COMO PACER

O Nilson, que vai recepcionar seu milhão de amigos corredores no domingo, costuma dizer que sua mara é exatamente o escrito acima: uma celebração da amizade e da diversão – correr 42K, na verdade, é um detalhe.

Assim, embora do ponto de vista do esforço físico isso não seja exatamente verdade, dá para dizer que a mara de domingo vai ser um passeio.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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