On Running lança tênis reciclável que “nunca será seu”

Paulo Vieira

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Pode parecer um contrassenso, mas a preocupação com meio-ambiente e com a sustentabilidade não é exatamente um vetor a balizar o dia a dia das marcas esportivas. São raras iniciativas como a da Adidas, incomodada com o plástico que se acumula no oceano, por exemplo, e que fabrica tênis a partir do material recolhido no mar.

A suíça On Running, que tem entre seus investidores Jorge Paulo Lemann e o tenista Roger Federer – também responsável por desenvolver uma linha para a marca –, engrossa esse time ambientalmente sensível.

Até o fim de 2021, a empresa lança no mercado global o Cyclon, tênis feito de um polímero sintetizado a partir de semente de mamona encontrada na Índia. Cerca de metade do calçado é totalmente reciclável, e a maneira como ele será vendido passa necessariamente por logística reversa. Ou seja, será preciso que um velho par volte para a On Running para que um novo seja comercializado.

O slogan do Cyclon é “o tênis de corrida que nunca será seu”.

A tarefa não é fácil, pois significa uma mudança de “shift”, no jargão corporativo, não só no processo geral de produção e comercialização, como na cabeça do consumidor. Você simplesmente não compra o Cyclon, você o assina. É preciso pagar R$ 164 por mês durante um ano inteiro para fazer jus a dois pares por ano. Para receber o segundo, será preciso devolver o primeiro — ou o que sobrou dele.

O mundo, de qualquer forma, vem mudando, e serviços de assinatura/aluguel tem substituído, por exemplo, a posse de automóveis e imóveis. Resta saber se em ambiente tão fetichista quanto o da corrida amadora brasileira, a preocupação ambiental irá se sobrepor à vaidade e à vontade de acumular.

Este pasquim falou por videoconferência com Henrique Dias e José Taleb Neto, executivos da On Running brasileira, que disseram que o Brasil já conta com 60 assinantes do Cyclon. A princípio, o país não corre riscos em não participar do sistema caso essa base de assinantes não se expanda. Não há riscos por razões logísticas: a On tem fábricas apenas no Vietnã, e os pares do Cyclon não exigiriam uma logística própria para chegar ao Brasil, aumentando sobremaneira o custo, já que outros produtos da marca são distribuídos por aqui.

Suprematismo sustentável

O Cyclon é totalmente branco, pois a pigmentação também tem um relevante custo ambiental, e esse poderia ser outro ponto de repulsa do consumidor brasileiro, que, na visão algo dogmática do mercado, gosta de tênis colorido.

“Acho que essa visão valeu muito nos anos 2000, com a explosão de cores, e até mesmo aquelas ondas de neon, mas hoje em dia já se usa muito os tons pastel. E o Cyclon é um tênis de perfil bem versátil, não é necessariamente feito só para correr”, diz Dias, que acrescenta que a indústria de vestuário e de calçados “é muito poluidora, por conta do processo de tinturaria”.

Os executivos da On esperavam uma resposta um pouco melhor do mercado brasileiro ao Cyclon, mas argumentam que a pandemia modificou os planos de divulgação do produto. O editor deste pasquim, exercendo a dúvida socrática em que ele ancora, ou supõe ancorar, seu jornalismo, perguntou aos amigos se o projeto poderia ser cancelado no país por falta de adesão.

“Somos muito resilientes, a empresa, talvez por sua origem suíça, não tem uma mentalidade de urgência pelo resultado, então em nenhum momento foi aventado isso”, disse Taleb.

“A gente acredita na sustentabilidade, a escolha de materiais amigáveis é um pilar, temos malha feito em material de PET 100% reciclado, além disso há muita preocupação aqui com emissão de C02”, diz Dias. “Queria trazer para o Brasil embaixadores da marca, mas muitos não viajam de avião, nem chegam a sair da Europa, já que esse é um transporte muito poluente. Aqui também somos muito criteriosos nas viagens”, completa.

Ter uma linha de produção na América Latina para abastecer os mercados próprios e os Estados Unidos, onde a marca o vem tendo boa entrada entre os consumidores mais especializados, e diminuir o custo ambiental do “shipping” não  faz  sentido, pois, segundo Taleb, a On “preza pela execução do produto”, e há três escritórios no Vietnã apenas para cuidar da gestão das fábricas.

Há também, claro, o impacto econômico que seria produzir fora do Sudeste Asiático, que tem mão de obra barata e especializada, razão de acolher há tempos outros fabricantes globais de tênis.

Para assinar o Cyclon, entre no site oficial da marca, aqui.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

Um Comentários

  1. Avatar
    Simone

    Eu gostei! Pagaria pra devolver o tênis velho e ter sempre um novo. Quando começamos a fazer muitos km, ter tênis em bom estado é mais legal que ter um armário cheio de tênis que já não estão muitos bons.

    Responder

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