Sete lições de corrida e uma de vida

Paulo Vieira

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ÂNCORA DO PROGRAMA “Troca de passes”, do canal SporTV, o jornalista Tiago Maranhão, 41 anos, correu a meia mara do Rio em 2017, ocasião em que o editor deste pasquim participou da “full” sob um sol não exatamente festejado por mim e pelos demais maratonistas.

Quase soçobrei na “faixa de Gaza” do Arpoador, como você pode rever aqui.

Peladeiro na juventude, Tiago vinha num processo de encantamento progressivo com a corrida, e aquela meia, concluída no limite psicológico, digamos, das 2 horas, referendou seu plano de encarar a mara logo menos.

Passados dois anos ainda não rolou – ele disse ao JQC que o plano de experimentar o fetiche-mor ficou adiado para o ano que vem.

Atualmente, faz uma rodagem de 7K duas a três vezes por semana “para não ficar pançudo antes da hora”.

Tiago deu uma entrevista ao JQC há dois anos, falando, entre outras coisas, da convivência de jornalistas e boleiros nos canais de esporte.

Agora, a meu pedido, brinda nossos leitores com uma reflexão sobre a corrida.

Trata-se da adaptação de um texto que o parça publicou em seu próprio LinkedIn.

Evoé.

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7 lições das corridas de rua e 1 da professora Marisa

Saí do colégio há tanto tempo que me espantei ao fazer a conta dos anos que se passaram. Vinte e… bom, uns 20 anos.

Ainda me lembro bem de muitos professores. E em momentos aleatórios. Hoje, enquanto corria no calçadão da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, me lembrei da Marisa.

Marisa dava aula de matemática e era a professora mais fashion do Colégio Palmares, numa época em que pessoas que se vestiam na moda e com estilo eram chamadas de “transadas”. Acho que a expressão era essa, não posso ter certeza.

Certamente, não eram fashion. Nem mesmo a Marisa, com seu cabelo ruivo brilhante preso numa trança espinha-de-peixe.

Matemática não era meu forte. Várias disciplinas não eram.

Então, não consegui absorver muita coisa que a Marisa tentou me ensinar, mas uma lição eu guardei e levo para a vida. Não era sobre matemática.

Bom, pelo menos eu entendi que não era só de matemática que ela estava falando enquanto resolvia na lousa algum exercício de trigonometria que me parecia absolutamente indecifrável.

“Classe, não adianta eu resolver o exercício e vocês copiarem. Não adianta vocês chegarem ao resultado cortando caminho. Não adianta vocês entenderem tudo que eu faço, se não fizerem também.

Só funciona assim: primeiro vocês entendem, em seguida vocês fazem. Vocês. Sozinhos.

Que classe! Não a nossa, a da Marisa.

Que aula! Não a de trigonometria, mas esse ensinamento transportado para a vida.

Enquanto corria pela manhã comecei a pensar em tudo que eu levo desse exercício viciante para as outras áreas da minha vida. Abaixo, em ordem aleatória, o que consegui colocar no papel:

  • Ache seu pace cada um tem um ritmo e não adianta tentar acelerar o seu de uma hora para outra. É com a regularidade do treino que vem a intensidade, e não o contrário.
  • Só depende de você – ninguém pode correr por você. Você pode conhecer toda a teoria, saber exatamente o passo a passo e o ritmo do processo, mas nem tudo pode ser delegado. Os seus passos só você pode dar
  • É o esporte individual mais coletivo que existe – pode parecer uma contradição com o item anterior, mas é um complemento. Você dá seus passos, o que não te impede de receber incentivos e conselhos, de ter alguém para te guiar ou inspirar. Sua equipe de apoio não corre por você, mas te ajuda a correr melhor
  • Tenha metas claras –  saiba o que você quer de cada treino. Não apenas saia correndo para ver no que vai dar. O que não te impede de continuar em frente depois que a meta for atingida.
  • Querer sempre mais – o ideal é terminar cada treino com vontade de mais. De ir um pouco mais longe e um pouco mais rápido no dia seguinte.
  • Só acaba quando termina – não tem medalha para quem desmaia um metro antes de cruzar a linha de chegada. É fundamental manter o foco até o fim. O que não te impede de curtir o prazer da reta final.
  • Terminar melhor do que começou – ao fim de cada treino, você é um atleta melhor do que aquele que iniciou a corrida. E no final das contas, é isso que a gente busca, ir se deitar no fim do dia uma pessoa melhor do que aquela que saiu da cama pela manhã.

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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