Mongólia, o novo destino do explorador Gui Cavallari

Paulo Vieira

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SE FOSSE CONSULTOR DE VIAGENS, meu herói, nosso heroi Guilherme Cavallari talvez não prosperasse. As empresas de seguro-viagem logo dariam um jeito de rifá-lo do mercado.

Mas para o bem dos shixtema, parceiro, Guimas só faz as curadorias de suas próprias viagens, e ultimamente com grau ascendente de periculosidade. Primeiro foi a Patagônia, onde pedalou sozinho por cerca de seis meses; depois as alagadas Highlands escocesas, que explorou com suas botas nada impermeáveis.

De uma expedição para a outra, a ameaça de um puma desgarrado atacá-lo num camping selvagem deu lugar a algo mais concreto: a perda de um dedo num dia de queda vertiginosa de temperatura.

SOZINHO ENTRE PUMAS NA PATAGÔNIA

EXPLORADOR GUI CAVALLARI NAS HIGHLANDS ESCOCESAS

Pois agora o risco é de outra natureza. Na Mongólia, onde pretende pedalar novamente sozinho por quatro meses e meio a partir de 10 de maio, ele terá um novo e bem complicado problema: a água.

Gui não viaja para ter conforto (“seria covardia”), por isso ele costuma meter sua bicicleta bem longe do beaten track. No caso da Mongólia, onde vai rodar cerca de 3500 quilômetros, isso significa cruzar longas extensões do deserto de Gobi sem passar por vila alguma num raio de 300 a 400 quilômetros. E ele não tem como estocar água na mochila ou qualquer compartimento da bike.

O deserto de Gobi/Foto: Wiki Commons

“Já comecei a mapear os locais onde há poços artesianos pela Mongólia, mas só vou ter certeza deles quando chegar ao país”, disse a este pasquim por telefone de seu sítio beleza-pura de Gonçalves.

Segundo o explorador, é possível estocar e ter autonomia de comida por até duas semanas, mas com água são só cinco dias.

Além disso, o maluco vai encarar o verão na Mongólia, e as temperaturas podem passar dos 35 graus. Felizmente, tempestades de areia só acontecem na primavera.

Nas conversas com os médicos do Ambulatório do Viajante, instituição de referência de saúde do Brasil, Guimas ficou sabendo que seu próximo destino é um dos mais problemáticos do mundo. Peste bubônica (cujo vetor é a marmota), antrax, encefalite e outras doenças grassam no local. “Tive que refazer todas aquelas vacinas que tomamos na infância”, disse.

Seria prudente evitar carne e leite, base da dieta local, mas Guimas procura sempre ser autossustentável em suas viagens, e isso significa também incorporar os hábitos locais.

“Em Ulan Bataar, como os ulanbataarianos.”

Guimas é muito bom frasista, mas não dá para dizer que seja troublemaker. Se adorasse encarar o risco sem mais aquela, não capacitaria tantas pessoas a viajar pela natureza de maneira autossustentável, como ele faz em seus cursos na Mantiqueira.

Enfim, quando perguntei “por que Mongólia?”,  respondeu: “Marco Polo”.

Além disso, ele quer ver in loco outra particularidade da Mongólia, país em que um terço da população é nômade, proporção que não se verifica em nenhuma outra parte do mundo, com possível exceção dos bérberes do Saara.

E esse traço tão mongol está com os dias contados. “O país está mudando, enriquecendo economicamente por conta da exploração mineral, há hoje muitos estrangeiros lá, e é possível que o nomadismo acabe.”

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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