Correndo com tartarugas

Paulo Vieira

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A PRAIA DO LEAO é um dos locais da ilha de Fernando de Noronha onde as tartarugas-marinhas deixam seus ovos. O trabalho é extenuante. Elas precisam sair da água e usar as nadadeiras para cavar buracos de cerca de 50 centímetros onde irão deixar os ovos em segurança.

Nada que o animal, que passou 30 anos longe de casa, não possa resolver. Mas barulhos, movimentação de pessoas e luzes artificiais podem amedrontá-lo.

Não dá para dizer que a fortuna sorriu para as sete espécies de tartarugas marinhas, cinco das quais visitam o Brasil. De mil filhotes, apenas um chegará à vida adulta. 

Pode-se dizer que a tartaruga que volta para colocar seus ovos em Noronha é uma vencedora. Digna de ganhar um meme, uma fotinho dessas que os corredores gostamos de deixar em nossas redes sociais com a palavra superação bem grande sob a medalha da prova de 5K.

O acesso à praia do Leão é controlado. Bom para as tartarugas, que se estressam menos com os banhistas, e melhor ainda para  concessionário privado que recebe uma gorda taxa – R$ 99 – de qualquer pessoa que queira ir estender sua canga lá.

A MEIA MARATONA MAIS BONITA DO BRASIL

Estou em Noronha há alguns dias, e tive de fazer aqui um digital detox forçado. O acesso à internet é pior do que nos tempos da conexão discada. Esta minha ausência do site, contudo, não deve ter sido lastimado por meus leitores.

De qualquer forma, como aqui ocorre a meia maratona mais bonita do Brasil, em dezembro, pus-me a conhecer seu itinerário. Dois terços dela transcorrem no asfalto da BR-363, a única estrada de ligação da ilha.

Uma das partes em terra é justamente na região da praia do Leão. Da saída da 363 até a ponta das Caracas são cerca de 4K em terra. Terra que no meu simulado se transformou em lamaçal.

Deixei minha pousada no Boldró em direção à Baía do Sueste e cheguei ao portão de acesso antes do horário de abertura do parque.

Não havia ninguém, e entrei. 

Se encontrasse com vivalma ao longo do caminho, explicaria que não havia ninguém na portaria. Mas não havia ninguém, então fiquei por ali e contemplei a praia do Leão.

A praia é linda, consoante com o altíssimo padrão Noronha, em forma de meia lua, areia alaranjada, ilhas defronte a ornar-lhe, mar cristalino.

Quem tiver dinheiro em caixa – a inscrição para a prova custa 600 pratas e fetiche por cenários paradisíacos, cacife os 21K de Noronha.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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