EM 2014, ENTREVISTEI PARA A VERSÃO brasileira da Runner’s World, então franqueada pela Editora Arvorezinha, o maratonista paulista Solonei Rocha, ouro nos Jogos Panamericanos de Guadalajara, de 2011, e detentor do recorde pessoal de 2:11:32 nos 42,2K de Pádua, na Itália, também em 2011.
VAI OU RACHA
SOLONEI SE FRUSTRA EM AMSTERDÃ
LEMBRANÇAS DA PAMPULHA
Os Jogos do Rio ainda iam longe – não tínhamos conhecido nem mesmo o Mineirazzo – e Solonei já falava em buscar o índice olímpico para estar entre os três maratonistas brasileiros homens que alinham no Sambódromo no domingo, 21, último dia do evento.
Ele também mostrava muita preocupação em seguir diligentemente seu curso superior de Educação Física, em Bragança Paulista, no interior de São Paulo, onde mora.
Nascido na quente Penápolis e tendo trabalhado como montador de pneus e coletor de lixo antes de entrar no esporte, Solonei conseguiu. Mesmo longe de seu recorde pessoal, obtido há cinco anos, ele é um dos três brasileiros da maratona, junto com Marilson Gomes, e Paulo Roberto de Paula. E está a um semestre de concluir a faculdade.
Não dá para dizer que o clima seja o melhor possível entre os maratonistas verde-amarelos. Paulo Roberto chegou a ameaçar processar Solonei para tomar-lhe o posto, caso não obtivesse índice, pois o penapolense poderia ser presenteado com uma vaga, digamos, extravagante, fruto de decisão polêmica da autoridade mundial de atletismo, a IAAF.
Os cartolas decidiram agraciar com vaga olímpica os vinte primeiros classificados do Mundial do ano passado, disputado em condições inóspitas, sob a poluição Quero-ser-Grande de Pequim, em 2015.
Mas Solonei não precisou desse expediente. Ao correr 2:13:15 em Milão, no ano passado, ele se garantiu como um dos três melhores tempos brasileiros.
De qualquer forma, dos três, ele é o que chega com os piores tempos. Marilson, cujo recorde é 2:06:34, um temporal na frente de Solonei, cravou um tempo alto em 2015, 2:11:00, em Hamburgo; Paulo Roberto fez 2:11:02 em Fukuoka em 2015, mas piorou este ano, com 2:13:58 em Viena.
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Aos 34 anos, Solonei, que treina para o Rio na altitude de Bogotá, respondeu por e-mail às perguntas do JQC. Embora não fosse minha expectativa, ele revelou-se um tanto telegráfico, o que me fez sentir meio Ceará imitando a Marília Gabriela naquele momento associação de ideias.
JORNALISTAS QUE CORREM – Você chega aos Jogos um tanto distante das suas melhores marcas. Isso te preocupa ou é melhor ficar longe dos holofotes, como azarão?
SOLONEI – Não, ser azarão é uma situação da qual eu estou acostumado, por vários anos passei por esta indagação, acredito que não vou mudar a forma de pensar e de analisar o meu desempenho e nem os vários títulos que conquistei até o momento!
JQC – Realisticamente, que posição você almeja?
SOLONEI – Uma posição que me faça sentir realizado e satisfeito com o meu desempenho, pode ser em primeiro ou em outra posição, se eu tiver um desempenho para tal ficarei satisfeito!
JQC – É possível fazer um esquema com os outros dois brasileiros ou isso não existe?
SOLONEI – Acredito que não, uma vez que é uma prova individual, não coletiva.
JQC – Por quanto tempo mais você pretende correr após os Jogos?
SOLONEI – Não sei, somente o tempo dirá, meu corpo vai me dizer até quando!
JQC – Gosta de correr no Rio?
SOLONEI – Sim, minha melhor marca de meia maratona foi no Rio, 1:03:15.
JQC – Como está o clima olímpico?
SOLONEI – Bom, sempre esperei por este momento.
JQC – As instalações da Vila Olímpica, de 0 a 10, que nota dás?
SOLONEI – Não estou na Vila.
JQC – O fato de [o maratonista] Vanderlei Cordeiro ter sido escolhido para acender a pira aumenta a responsabilidade de vocês três?
SOLONEI – A minha não! Já a deles…
JQC – Isso é bom?
SOLONEI – Depende do bom?! Se for por conta de estar se sentindo com “pressão” é ruim, porém eu estou focado e tranquilo.
JQC – Como está seu relacionamento com Marilson e Paulo?
SOLONEI – Indiferente.