A TOCHA OLÍMPICA passou por São Paulo ontem. Não atraiu multidões como o cortejo fúnebre de Ayrton Senna nem o desfile do Tarado ni Você, mas animou uns poucos milhares de pessoas e teve momentos emocionantes como a participação da ex-ginasta Lais Souza no parque Ibirapuera e dos Demônios da Garoa na Ipiranga com São João.

Na avenida Sumaré, à tarde, um pequeno protesto a acompanhou. Garotas improvisaram um cartaz num papelão com a mensagem: Olimpíadas para quem?
COMO SEGURAR A TOCHA
NÃO VAI TER (CORRIDA) NA COPA
PORTUGUESA, VOCÊ FAZ PARTE DE UMA GRANDE FAMÍLIA
A MARATONA DE SÃO PAULO, VIVACE
É muito pertinente criticar os gastos desses eventos, ainda mais à maneira brasileira, prepotente, que aqui ainda encontrou um zelador cínico na figura do prefeito do Rio. Mas, sobre o desfile da tocha, que envolve muita gente entre batedores, guarda nacional, a própria confecção dos 12 mil artefatos etc, há gordos patrocínios de três marcas mundiais que devem dar para o gasto.
(Se não der, tem sempre uma renunciazinha fiscal amiga em Brasília)
Acompanhei a tocha em dois momentos. Pela manhã, umas 9h, no meu longão dominical 875C – Lapa – Praça do Patriarca –, vi passar os caminhões dos patrocinadores tocando seus hits para adolescentes no viaduto do Chá.
Apesar do barulho dos diabos, ainda mais com aquele helicóptero, as hordas de homeless da região seguiam dormindo o sono dos injustiçados. Esse cortejo prenunciava a chegada da treta, que, no famoso viaduto, era Casagrande quem finalmente carregava.

O célebre ex-centroavante passou o fogo para o maestro João Carlos Martins nas escadarias do Teatro Municipal. O maestro mal percorreu 100 metros e já saíu de cena. Travei com ele, esse emérito torcedor do meu time, este breve diálogo, tão breve quanto sua participação no evento.
– Maestro, qual a sensação de segurar a tocha?
– Incrível, incrível.
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O melhor foi o fim da tarde, quando consegui arrastar minha filha Maria Vitória até a avenida Sumaré. No começo, a ideia não a animou, mas ao chegar lá o negócio mudou de figura. Na altura do 1700, enquanto esperávamos a treta junto de outras 50 pessoas, muitas crianças e cachorros, fizemos exercícios nos aparelhos do canteiro central.

Ela então coletou a reprodução da tochinha inflável que promotores do Bradesco distribuíram e ficou realmente feliz com a chegada da comitiva, tanto que corremos juntos com ela por toda a extensão da avenida, até a Francisco Matarazzo, um percurso de 2,5K, distância que ela jamais correu na vida.
A motivação não era tanto ver quem se revezava na condução do fogo olímpico – o fogo em dado momento ia baixinho, e aí reparamos que quem levava a tocha era o parça e escritor Marcelo Rubens Paiva –, mas correr atrás do leque com desenho de urso e do pequeno refrigerante que a Coca distribuía.
Noite já escura e 2,5K depois, ela infelizmente não conseguiu sua recompensa.
Mas mostrou que tem pique para, logo logo, estrear num 5K.
Pense num pai orgulhoso.
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Muitos dos 12 mil escolhidos para carregar a tocha têm alguma história interessante para contar. Elas estão reunidas no portal do Bradesco, aqui.
Duas, quase aleatórias, de paulistanos condutores, que declino aqui e vale a pena conhecer: a do Danilo Bifone, um sujeito que planta voluntaria e vorazmente pelas ruas de seu bairro, a Mooca, e a do Luiz Felipe de Andrade, que distribui abraços também de graça e ajuda os sem-teto de São Paulo nas madrugadas.