O ciclo do ciclo

Julia Zanolli

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Qual é a influencia do ciclo menstrual no ciclo de treinos? As variações hormonais podem atrapalhar ou ajudar no desempenho esportivo? Existem muitos mitos dizendo que as mulheres devem ficar recolhidas durante o período menstrual. Mas isso tem mais a ver com a ideia de que o sangramento é algo “impuro” do que com limitações do corpo feminino.

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Segundo Tathiana Parmigiano, ginecologista do esporte, o exercício físico não é contraindicado em nenhum momento do ciclo. “Para muitos, durante a menstruação a mulher estaria fragilizada e deveria ‘poupar energia’. Mas o fluxo menstrual não impede a mulher de se exercitar e não traz nenhum risco à sua saúde”, afirma.

A única restrição é a disposição da atleta
A única restrição é a disposição da atleta

A médica também afirma que a mulher pode e deve praticar suas atividades em qualquer fase do ciclo. Ela ressalta ainda que o exercício traz uma série de benefícios para a saúde, como melhora do humor e da autoestima, perda de gordura e ganho de musculatura, menor risco de osteoporose, melhor qualidade de sono e queda do risco de câncer de mama. “Eventualmente a mulher poderá perceber um melhor rendimento em determinada fase. Mas isso é muito individual”, diz.

O treinador Nelson Evêncio, de São Paulo, aposta nisso para montar o treinamento de suas atletas. O primeiro passo é fazer uma entrevista para descobrir as particularidades de cada uma e saber em quais circunstâncias elas treinam melhor. Abaixo ele explica como funciona este método e quais benefícios ele pode trazer para as corredoras.

Jornalistas que Correm: Quais são as diferenças que você propõe no treinamento em cada fase do ciclo?
Nelson Evêncio: Em geral no período pré-menstrual as mulheres têm mais dificuldades para treinar e a intensidade do treino precisa ser reduzida. O treino fica bem mais leve, principalmente nos dois primeiros dias. Praticamente tiro os treinos intervalados ou diminuo bastante a intensidade deles. Em geral acontece o contrário no pós-menstrual. Neste caso, aumenta-se a intensidade do treino, pois aí elas costumam treinar melhor. Descubro na entrevista em qual época cada uma tem mais dificuldade ou facilidade para treinar. Somente então faço o planejamento dos treinos.

JQC: De que forma isso pode ajudar suas atletas a correr melhor?
NE: Não adianta pedir para a mulher realizar determinado treino em uma época que está inchada, com cólicas, dores, irritada etc. É o momento em que o treino deve ser mais leve e muito mais terapêutico. Já no período em que ela normalmente está mais disposta, deve-se aproveitar para que o treino seja mais intenso e com foco na melhora da performance. Planejando isso você potencializa os resultados na corrida.

JQC: Existe alguma fase do ciclo em que a corrida seja contraindicada?
NE: Não. Apenas deve ser mais leve. Salvo alguns casos onde a mulher tem dificuldade até pra sair de casa.

JQC: Que outras medidas a corredora pode tomar para otimizar essa relação com seus hormônios?
NE: É indispensável ter o suporte de um(a) ginecologista, de preferência especializado(a) em medicina do esporte. Em muitos casos, o (a) ginecologista observa as competições que a atleta pretende participar e altera a data do ciclo com a ajuda de anticoncepcionais.

JQC: Existe hoje um movimento de mulheres que afirmam que não podemos ser definidas pelos nossos hormônios, mas sim por nossas capacidades. Qual é sua opinião a respeito disso?
NE: Como treinador não há como tratar as mulheres da mesma forma com que trato os homens. Há diferenças fisiológicas naturais que interferem diretamente no estado da atleta, exigindo métodos de treinamento diferentes.  Isso não é um defeito. É uma particularidade da natureza. Do ponto de vista psicológico também há grande diferença no esporte amador. Você pode dar uma bronca no homem: ele aceita e serve de motivação. No caso de algumas mulheres (não todas), uma bronca pode ser negativa e fazê-la se desmotivar. É necessário ser mais compreensivo. E também é importante considerar as capacidades da mulher de ter maior tolerância ao esforço, de normalmente ser mais organizada e detalhista que o homem, mais disciplinada e mais aberta para contar o que está sentindo.

 

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Julia Zanolli

Julia Zanolli começou a correr em nome do bom jornalismo quando foi trabalhar na revista Runner’s World sem entender nada do assunto. A obrigação virou curtição, mesmo depois de sair da revista. Se livrou do carro para poder andar a pé pela cidade, mas é fã assumida de esteira. Prefere falar de comida do que de nutrição e acha que ter tempo é muito melhor do que matá-lo.

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