Um designer em exame

Paulo Vieira

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AO LONGO DOS TRÊS ANOS DESTE JQC não foram poucas as vezes que relatei ter trabalhado na editora Arvorezinha.

Por lá também passaram a parceira Julia, com quem divido os pixels aqui, e a Talita, que partiu deste pasquim para o Oriente Mágico.

Foram duas passagens minhas por lá, a última por não tão longos – realmente não pareceram longos – treze anos, entre 2000 e 2013. (Anedotário: em 2001, gestão FHC indo para o ralo, as luzes se apagavam umas 7 da noite e trabalhávamos no escuro).

Gil
Não pergunte por quem os…

Durante boa parte desse tempo convivi com o designer Gilvan Felisberto, o Índio Galdino, ou simplesmente Gil. Éramos da mesma redação e fomos demitidos no mesmo passaralho – um dos muitos passaralhos de repetição da empresa – de agosto de 2013. Não estávamos sós: foram 73 pessoas, se não me falha a precisão, naquele São Bartolomeu.

O LEITOR VIROU CLIENTE

PROTAGONISTA DA PRÓPRIA HISTÓRIA

AOS AMIGOS DEMITIDOS DE O GLOBO

DOSSIÊ A CASA CAIU

Mas Gil tornou à casa tempos depois, desta vez para a revista Exame, a prima rica do qual nossa antiga mensal era uma das primas pobres, frívolas e loucas.

Gil viu os tempos mudarem por lá. Do velho hábito perdulário de jogar dinheiro fora pagando o aluguel mais caro do Brasil ou da América do Sul, segundo se dizia, a editora Arvorezinha foi pouco a pouco entrando na realidade.

Ainda ocupa o mesmo prédio, mas dos 24 andares, a área privativa acessada por helicóptero ou elevador expresso e um edifício-garagem, hoje apenas cinco andares são ocupados.

Mas a história de Gil como celetista da Exame acabou ontem. Curiosamente, segundo ele, às barbas da produção do anuário Melhores e Maiores, um catatau de 400 páginas que certamente exigiria bastante de seu engenho e de sua arte – já devidamente investidos na publicação-mãe e especiais.

A demissão foi precedida de uma pergunta, na verdade um comentário visionário. Ao compartilhar uma postagem de Facebook da mulher do enésimo atual presidente da editora Arvorezinha, Gil escreveu:

“Se eu ofender essa senhora serei demitido?”

A mulher do enésimo presidente atual havia dito o seguinte, comentando a presepada política do dia, quando o deputado Waldir Maranhão, do PP do seu estado-sobrenome, revogou por poucas horas o processo de impeachment na Câmara:

“PERGUNTA: o Nordeste colocou a Dilma no planalto, agora um nordestino não quer deixá-la sair!! Depois dizem que somos preconceituosos. Será mesmo??”

Gil, pernambucano de Limoeiro, mas que talvez tivesse esse mesmo espírito combativo e solidário se nascesse em Brusque (sim, devo confessar: sou adepto do pensamento mágico) sentiu-se ofendido por aquele manifesto arquetípico da nossa classe-média bem nascida. Millor eternizou um bom trocadilho sobre essa nossa classe.

Ontem, dias dias depois, o comentário do Gil em sua página do Facebook foi: “Gente, fui demitido.”

Gil foi citado algumas vezes neste pasquim. A última vez, em fevereiro, como música incidental de um post que falava de hipertrofia muscular. É que nosso designer ganhou massa muscular, bíceps e tríceps numa velocidade impressionante.

Ao chegar à redação, rabo entre as pernas, parecia um personagem à procura de Graciliano Ramos; de uma hora para outra, tinha braços do tamanho das minhas pernas. Era sempre uma boa companhia em ambientes em que a espessura do braço contava, como na rede de bares Coqueiro’s Drinks e no Rodeio.

Enfim: Gil foi novamente demitido, mas a razão que lhe foi comunicada parece pouco verossímil – algo a ver com reestruturação, corte de despesas, o de sempre.

Mas, como diria o argentino, ?que sé jo? Aqui apenas vestimos as cores do Jornalismo Futebol Clube (apud Avallone) e, assim, zelamos para que algo do que falamos seja verdade – ou próximo disso.

Já sobre gestão de pessoas, recursos humanos, estratégias inovadoras de administração, isso aí estamos apenas aprendendo. Acho que lendo as principais publicações brasileiras do segmento e, mais ainda, repetindo suas práticas de vanguarda, a gente chega lá.

Leia a carta aberta que o Gil mandou ao enésimo presidente atual da editora Arvorezinha, participando-lhe de sua demissão, aqui.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

Um Comentários

  1. Avatar
    Teté Martinho

    Celetista?

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