Seguro-desemprego, onde investir

Paulo Vieira

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Façam o que eu digo, não façam o que eu faço. Não sei quem disse isso, mas incremento o dístico. Não façam o que eu faço e tampouco façam o que eu digo.

Não me refiro aqui à defesa algo paranoica da liberdade de correr sem planilha, lema deste JQC que eu venho sabotando com notável diligência.

Haja visto, por exemplo, meu ciúme do tempo sub 1:40 de Treinador na meia maratona da Asics, a Quatro Dourado, há dois domingos em SP.

Não que meu contraexemplo, para entrar logo no assunto, seja de alguma valia, dado que ninguém em sã consciência pode ser tão blasé com dinheiro como eu fui – e tenho sido.

Toyss
Toyss

A lança é que não fui resgatar meu valoroso seguro-desemprego no tempo aprazado, e agora Inês é morta. E não foi por falta de aviso. Hoje seriam cinco parcelas de R$ 1 385 na minha mão.

Daria pra comprar, talvez, uns 20 pares de tênis minimalistas. Se os tênis aguentam mesmo 600K, como reza o cânone, está mesmo na hora de aposentar o Nike Free 2015, o amigo de todas as horas na Mara de SP e de tantos quarteirões na Z.O.

Dizem que errar é humano, mas persistir no erro… Nem quero lembrar daquela decisão esdrúxula de investir em ações PN da Petrobras quando elas custavam R$ 46.

Amigos relativamente normais deram destinos diferentes aos caraminguás do auxílio-Vem pra rua. Jotabê Medeiros, mito do jornalismo cultural, anda investindo em combinados de sushi e sashimi em restaurantes de notória má relação custo-benefício da Vila Madalena.

Tudo em nome de cultivar valores supostamente cidadãos como a boa vizinhança.

“O combinado 4 do pico que frequento vem com polvo e custa R$ 190. Dá para colocar mais um Casillero malbec, de R$ 40, ouvir uma canção do Billy Bragg, e aí a porta da rua se torna mais brilhante e glamurosa.”

Miguel Icassatti, pau para toda a obra especialmente quando o assunto é vinho – que ele não leia o parágrafo acima -, investiu o seguro-desemprego numa pós-graduação em mídias digitais no Senac.

“Por ter trabalhado em regime de CLT por oito anos, ao ser demitido tive direito a receber o valor máximo de seguro-desemprego: 5 parcelas de R$ 1 385. Convenhamos, não é uma quantia a ser ignorada, por isso nem esperei o vendaval chegar. Aproveitei logo essa grana para me matricular e pagar as mensalidades do primeiro semestre da pós-graduação em mídias digitais. Não tem poupança, fundo de investimento, ouro ou ações na bolsa que valham tanto quanto conhecimento.”

É por essa e por outras que eu bebo, digo, que eu corro.

O negócio é depressivo, mas tem um gráfico sensacional dos passaralhos na área de jornalismo aqui.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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