Superheroi de Montes Claros

Paulo Vieira

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Escrevi sobre Bento Gonçalves, corrida, pirambeira & vinho na segunda-feira e o Attilio Faggi, cujo nome não esconde sua origem, apontou com simpatia pelo fcb do JQC alguns erros na grafia italiana de duas parole das quatro utilizadas. Tou bem eu de italiano.

Ele se identificou como jornalista corredor de Montes Claros, essa grande cidade do norte das Gerais, e eu mais do que depressa já sugeri que ele contasse como é correr na cidade onde o Velho Chico quase faz a curva – mas, de tão larga, a gente não vê.

Quase, porque o rio passa a uns 150K de Montes Claros. Bem, o Attilio não se fez de rogado e não demorou nem um dia para mandar o texto abaixo. Assim fica fácil fazer este pasquim. Senta a pua, Attilio.

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Após recomendações médicas que exigiam a descontinuação de 18 anos de musculação, me vi sem rumo. Alguns dias parado e, não sei de onde (pelo menos, inicialmente), veio a ideia de começar a correr. Comecei com 5K, mais andando que correndo. Anotava tudo (quilometragem, tempo, tênis utilizado).

Foi amor à primeira vista! Em apenas um dia, nos dez dias que se seguiram, consegui frear meu ímpeto e permanecer em casa descansando. Aos poucos, lendo revistas antigas que meu filho de 11 anos me emprestava, dei início a um processo de conhecimento de meu corpo e de meus limites (39 anos não são 19 anos).

Parque Milton Prates, em Montes Claros/Foto: Jane Felix
Parque Milton Prates, em Montes Claros/Foto: Jane Felix

Um dos poucos problemas de se correr em Montes Claros, que fica em Minas Gerais, mas que tem muito mais identidade com o Nordeste, são as altas temperaturas durante boa parte do ano. Assim, cada vez mais, acordo cedo para correr e procuro terminar meu treino antes das 8h, pois a ascendência italiana não me permite desafiar o sol depois das 9h. Desta forma, acordo às 6h agora no inverno e 5h30 no restante do ano. Ao voltar da corrida, que costuma variar entre 10K e 18K, suado e com as energias renovadas, tomo um banho e sigo para o serviço ansioso pelo próximo treino.

Após oito meses de corridas e dois pares de tênis descartados, me vejo às vésperas de vencer uma etapa: minha primeira meia maratona. Será no dia 5 de julho, em comemoração ao aniversário da cidade que me acolheu tão bem há oito anos e que me deu tantas oportunidades. O próximo passo também já está definido, mas acredito que estarei preparado para atingi-lo com segurança apenas no próximo ano: completar uma maratona.

Nota do editor: o editor demorou mais.

Ah! A respeito da ideia de começar a correr, que eu não sabia de onde havia vindo, aos poucos fui me lembrando de quando era criança e passava na orla da Lagoa da Pampulha, no fim de semana, a caminho do zoológico, com meus pais, e via alguns corredores dando a volta na lagoa, que é um dos símbolos de BH.

“A volta da Lagoa dá 18K”, dizia meu pai, e em minha mente eu imaginava os corredores como superherois. Agora, acredito, sou um deles.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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