Das tentativas de suicídio ao número 1 da Amazon

Paulo Vieira

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Um brasileiro que vive há mais de uma década em Londres me escreveu pelo Linkedin e relatou sua história. E linkou seu perfil, publicado há oito dias no Estadão – uma lágrima para o Estadão, aliás.

Valter dos Santos perdeu Mariluci, sua mãe, quando tinha oito anos de idade e precisou, se cabe o trocadilho, se virar nos 8. Depois de performar no que restou de sua infância e adolescência, tentou o suicídio algumas vezes. Quando ficou em coma num Carnaval, teve contatos que o fizeram mudar de vida.

Muitas águas turbulentas rolaram/Divulgação
Muitas águas turbulentas rolaram/Divulgação

Foi para Londres e comeu o pão verde e amarelo que Asmodeu amassou. As coisas começaram a virar quando arrumou emprego na Harrods e mostrou ao que tinha vindo. Hoje gerencia uma equipe de 80 pessoas e é autor de livros espiritualistas. Com The Truth never dies (A Verdade nunca morre), seu primeiro romance, ele chegou ao topo do ranking das Amazon americana e britânica na categoria “spiritual”.

Se você precisa de uma boa história de superação para tocar seu dia a dia, Valter vai contá-la agora.

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Eu tinha oito anos de idade quando minha mãe faleceu. Ela tinha apenas 30 anos e era muito saudável. Restamos eu, meu pai, que estava no último ano da faculdade de direito, e minha irmã de cinco anos de idade.

Foi assim: dormimos domingo como uma família unida e feliz e acordamos segunda com mamãe no hospital. Meu pai contou que, no meio da noite, ela levantou da cama sentindo uma forte dor de cabeça e foi ao chão. Aneurisma cerebral.

Mamãe ficou em coma por três dias, e veio a falecer no quarto dia. Foi tudo muito rápido, muito brusco.

Criança, me vi tendo de tomar conta da casa. Ajudava meu pai nas compras, ia ao banco pagar contas e cuidava de minha irmãzinha. Levava-a à escola. Frequentei reuniões de pais e mestres. Acabei por tomar as rédeas da situação.

Tive uma infância dura, sem muitas alegrias. Embora meu pai, minha irmã e eu fossemos unidos e nos amassemos muito, era como se uma nuvem de tristeza pairasse no ar.

Sufoquei meus sentimentos: achava que não podia deixar minha tristeza entristecer meu pai e minha irmã ainda mais.

A TRISTEZA VEM À TONA

No final de minha adolescência meu pai se casou novamente e toda a tristeza acumulada veio à tona. Não queria mais sair de casa, não queria ver ninguém. Perdi a fé em Deus e só conseguia pensar em me matar.

Tentei o suicídio várias vezes. Algumas vezes minha família me socorreu,  em outras ninguém ficou sabendo.

Então fiz um plano infalível e na tarde de um sábado de Carnaval coloquei-o em prática. Minha família tinha viajado e só voltaria no final do feriado. Assim que vi o carro partir, tomei duas garrafas de bebida alcoólica e muitos barbitúricos.

Eu entrei em coma e fiquei desacordado. Quando acordei, no final da terça de Carnaval, eu estava na cama do meu pai. Ouvi a voz da minha mãe e de um outro homem. Quando minha visão melhorou, vi minha mãe e meu avô, Benedito, que havia desencarnado no ano em que eu nasci. Ambos tinham muita luz.

Recordo-me claramente quando minha mãe disse: “Ele já esta bem. Podemos ir.” Eu então percebi que minha mãe e meu avô estiveram em espírito ao meu lado durante aqueles dias de coma. Cuidaram de mim todo aquele tempo.

Quando se foram, eu imediatamente levantei da cama e me ajoelhei. Chorando, agradeci a Deus por ter me dado aquele presente, o presente da vida. E pedi perdão por ter me voltado contra ele.

ANOS LONDRINOS

Passei a sentir uma enorme vontade de viver! Queria viver tudo o que o mundo tinha a me oferecer. Em 2003, juntei dinheiro e comprei uma passagem para Londres. Cheguei lá no dia do meu aniversário, 25 de novembro. Levava uma bagagem cheia de sonhos.

O começo foi muito difícil. Trabalhei como coletor de copos em uma boate. Com o que ganhava, ajudava a pagar as contas na casa onde moravam alguns amigos brasileiros que encontrei na cidade. Dormia no chão, em um pequeno espaço entre a sala e o banheiro. Dormir no chão, no caso, não é um modo de dizer.

Embora não fosse uma acomodação confortável, eu agradeci na época e agradeço até hoje pelo teto que os amigos me deram. Fiquei ali até conseguir um trabalho como ajudante de cozinha, o que me possibilitou alugar um apartamento.

VOLTA POR CIMA

Fiz depois faxina em escritórios, fui lavador de pratos, garçom… E consegui uma oportunidade na maior loja de departamentos do mundo, a Harrods. Os treinamentos lá são de excelência para quem é do setor do comércio. Aprendi muito, e muitas portas se abriram. De lá parti para a empresa multinacional onde estou há mais de oito anos.

Comecei como vendedor e hoje ocupo o cargo de gerente de negócios. Lidero uma equipe de oitenta pessoas, entre vendedores e gerentes de lojas.

DREAM COMES TRUE

Após oito anos morando na Inglaterra, já estável financeira e emocionalmente, consegui realizar meu maior sonho: escrever romances. O primeiro foi A verdade nunca morre.

Enviei o manuscrito a várias editoras inglesas, mas elas pareceram desconhecer o gênero espiritualista. Engavetei o projeto e pensei até em desistir. Foi então que vi Ana Maria Braga dizer ao público do programa Mais Você: “Não desista dos seus sonhos”.

Recebi aquela frase como um sinal.

No mesmo dia li no jornal inglês The Sunday Times uma reportagem que ensinava o passo-a-passo para abrir uma editora e publicar livros por conta própria.

Algumas semanas após o lançamento do livro por minha própria editora, ele alcançou as primeiras posições no ranking da Amazon dos Estados Unidos e do Reino Unido.

BORBOLETAS NO JARDIM

Um ano se passou e publiquei  Borboletas no Jardim, que agora chega ao Brasil pela Intelítera.

Borboletas é um romance autobiográfico. Seus personagens narram experiências e sentimentos que vivenciei. A solidão, por exemplo, mesmo quando se está rodeado por muitas pessoas.

Parece um dramalhão, mas, diferentemente do padrão do gênero, o livro tem linguagem ágil e moderna. É um novelão com muita ação e histórias de superação.

Quero passar essa mensagem. Acredito fervorosamente que com fé em Deus, amor próprio e muita dedicação conseguimos alcançar todos os nossos ideais.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

Um Comentários

  1. Avatar
    Izilda Ap. Palaretti

    Uma história com final feliz.
    A Deus te proteja e abençoe sempre.
    Tive algumas experiências com o suicídio, hoje tenho 62 anos e ainda estou presa à muitos medicamentos. Quando penso q o pior já passou, sempre acontece algo pior ainda. Estou viva é nem sei se mereço este dom de Deus.
    Parabéns pra vc de todo meu coração.
    Izildapalaretti

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