Minha parca contribuição ao tema é mais de parte interessada do que de comentador do cotidiano. Como torcedor da Portuguesa, não deixei de me abater quando soube do 0 a 5, lá pelas 9 da noite de ontem. Um banzo baixou em mim. Mas menos de indignação do que cansaço: agora não é só o juiz (de campo) que erra contra nós, é todo o tragicômico aparato jurídico do futebol.
Mas o cansaço não é tanto por sermos achincalhados, prejudicados, vilipendiados, sacaneados, fodidos outra vez. O cansaço é por estar de novo na situação inglória do injustiçado involuntário, do oprimido que não faz nada para querer ser a vítima que se tornou.
De qualquer forma, perto de histórias de opressões mais sérias, Amarildos etc., isso pode parecer conversa para burguês dormir. E eu aqui gastando pixel e atenção do meu leitorado.
Mas me justifico.
Fiquei pensando como iria explicar essa queda súbita, sem mais aquela, do time para as minhas filhas. Com 8 e 5 anos, Maria Vitória e Maria Eduarda são torcedoras da Lusa quase por osmose. Na primeira vez que foram ao Canindé, sem que ninguém as houvesse instruído, saíram correndo em direção à arquibancada, muitos metros à minha frente, gritando Lusa em uníssono.
Não houve ensaio nem premeditação na ação.
Ficaram em choque, no bom sentido, com os dois gols que viram naquela nossa virada contra o Náutico. Seus herois se chamam Ananias, Bruno Mineiro e Dida.
Da mesma forma, na nossa primeira visita ao Museu do Futebol, quando elas tiveram a oportunidade de ver o Pacaembu vazio, um momento espetacular do passeio, ficaram impressionadas. Eu diria mais: ficaram enfeitiçadas. Vitória pediu para ficar até 5 da tarde para ver o jogo amistoso que, casualmente, estava para acontecer.
É impossível não resvalar no clichê, mas o futebol tem no Brasil esse condão transcendental. Nessa hora no Pacaembu vazio me vi a mim mesmo, frequentador tão assíduo daquele espaço, com meu pai e meu irmão comendo amendoim ou chupando picolé de limão enquanto a Portuguesa empatava. Por segundos voltei à infância de maneira similar ao crítico de “Ratatouille” no instante em que come ratatouille.
Calhou do futebol, no Brasil, ter esse poder evocativo. Nossa bruta, viril madeleine.
E assim fico a lembrar do dia em que chorei pela recusa de meu pai em me levar ao Pacaembu ver Lusa x Goitacaz (foi 0 a 0 ou 1 a 1) – minha irmã Lúcia acabou indo comigo; do dia em que ele, num intervalo de um jogo qualquer no Morumbi, me deu sua inverossímil explicação de porque havia trocado Portugal pelo Brasil – a família toda ficara; do dia em que um sujeito, no Canindé, pegou meu copinho de suco Dica, de laranja, ainda com o último gole, e jogou em direção às cabines de rádio; da noite em que meu pai, eu e meu irmão deixamos nosso apê em frente à PUC, bons tempos, para ver um jogo da Lusa e, na volta, a universidade havia sido invadida pelas tropas acantonadas do Erasmo Dias – minha mãe deu guarida a não poucos estudantes naquelas duas horas.
Mais difícil, curiosamente, é lembrar do que aconteceu dentro de campo nesses 40 anos. Dos pênaltis batidos de olhos fechados no meio do gol pelo lateral Marinho; do gol por cobertura que Pelé não fez e o Alcino, ou Alcindo, o grandão que veio do Pará, fez diante dos meus olhos. De uma virada que tomamos do Santos, talvez, eu disse talvez, por obra de Pelé, com dois gols de falta (Cejas e seu boné estavam em campo).
Enfim, eu não queria e não pretendia me estender muito nessa conversa. Mas se alguém por acaso me perguntasse o que é o futebol, acho que a resposta estaria em algum lugar destes três últimos parágrafos.
P.S.: O título deste post é a primeira frase do antigo hino do time, bem menos belicoso do que o atual.
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