Runner’s high

Paulo Vieira

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Não existiria som se não houvesse o silêncio, disse o grande Pragana Santos numa de suas músicas lindamente pegajosas. Também não existira o refrão se não houvesse a estrofe que o antecede; e, por extensão, não haveria a música pop se não houvesse a estrofe inicial non sense.

De maneira análoga, não existiria a sensação boa de bem-estar, o tal runner’s high, se não parássemos de correr. Aquela vontade de ficar tomando o café da manhã por uma hora na varanda, ocasião em que até a Folha de segunda-feira parece ter algo a dizer, só vem mesmo após uma boa rodagem no parque.

Como as endorfinas e os endocabinoides iriam trabalhar se você não parasse nunca de os produzir? É preciso cessar o esforço para desfrutar do high.

Em busca do Santo High/Reprodução M C Escher
Em busca do Santo High/Reprodução M C Escher

Pois eu ando precisando de mais esforço para poder desfrutar disso. Já não sinto a mesma alegria pós-coito, ou, por outra, já não vejo graça na Folha de segunda se não corro pelo menos 1h30.

O que isso quer dizer? Que vou ter de parar e começar tudo de novo, bem devagarinho? Que é melhor tentar triatlo ou marcha atlética? Jogos de tabuleiro?

Alguns colegas heavy users, corredores de muita quilometragem, vieram, a pedido, em minha ajuda.

O chapa Vicent Sobrinho, colunista da Corrida Viva, disse-me o seguinte, num diálogo via Twitter:

“Na verdade, essa sensação é natural. Ela começa após os 15 minutos e se intensifica com o amadurecimento do corredor. Com o passar do tempo, ela é alcançada com cada vez mais ‘sofrimento’ – o esforço –, seja em subida, treino longo, tiros… e cada corredor vai percebendo. Mas, para isso creio que leva de 5 a 10 anos. A percepção é sensibilidade pura. Correr uma hora leve dá para comparar com meditar. Isso se você estiver sozinho.”

Já a Zilma, a ultramaratonista que gostava de entornar umas e outras em Curitiba, precisa de parâmetros mais pesados. Um bom começo de conversa é uma rodagem de 30K; ou fazer os tiros de intensidade do treino intervalado, que, no caso dela, são 20 tiros de 400 metros ou 15 de 1K. “Quanto mais você voluma, mais você sente prazer.”

Tou pensando em seguir os conselhos do Marcio Atalla e do Drauzio Varella e colocar umas escadarias na equação.

Mientras tanto,

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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