Pampulha pra quê?

Paulo Vieira

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SE VOCÊ NÃO É ATLETA PROFISSIONAL, o Giovani dos Santos, digamos, que defende seu pentacampeonato, ou uma das meninas do Clube Pinheiros que acordam cedo e embelezam a pista da USP, qual a razão de se bandear lock, stock and barrels a Beagá para correr 18K à beira da lagoa da  Pampulha?

A pergunta não é retórica, mas o lago sim. Serve também para as Milhas Garoto – embora a vista capixaba seja uma razão objetiva –, para a São Silvestre, apesar do lance do 31 e da tradição, e para outras provas por aí.

Bem, eu intuo a resposta, e ela não está no Eclesiastes, mas poderia: fetiche, fetiche, fetiche dos fetiches, tudo é fetiche.

Falei uma meia dezena de vezes aqui que não há fetichista maior que o maratonista, cuja obsessão o leva para tantos cantos do mundo – algumas sugestões de 42K duca para correr no primeiro semestre de 2018, falar nisso, você pode ver no link abaixo.

CINCO MARAS MARAVILHOSAS PARA CORRER EM 2018

PARA DE DISPUTAR PROVAS DE CORRIDA

MARATONA, O FETICHE

NA NOVA ZELÂNDIA PARA DISPUTAR UMA… MARATONA

CORRENDO EM BEAGÁ

TREM DE DOIDO

A MULHER AO LADO

Mas o fetichismo não é exclusividade dos compulsivos dos 42K. Creio que quem alinha domingo às margens da infelizmente totalmente poluída Pampulha não está lá para contemplar a puberdade arquitetônica do Niemeyer nem a juventude administrativa do Juscelino.

No meio da Pampulha tinha uma igreja de São Francisco do Niemeyer (mas não deu tempo de ver!)/Foto: Sarah e Lain/Wiki Commons
No meio da Pampulha tinha uma igreja do Niemeyer (mas não deu tempo de ver)/Foto: Sarah e Lain/Wiki Commons

Quer é correr o mais rápido possível, baixar o próprio tempo, marcar presença onde supostamente gente que faz isso direito está. Enfim, deixar-se ficar nos ombros dos gigantes, como dizem aqueles irmãos ingleses que sempre encenam se detestar.

Eu resolveria esse 18inho na minha própria cidade, um domingão matinal, temperatura amena, com direito a ver o Centro semideserto.

Mas esse sou eu.

Acabei de ter um flashback. Eu e minha avó Alice, ambos em sua casa em Avanca, aldeia portuguesa de 10 mil habitantes perto de Aveiro para onde ela voltou já idosa. Depois do jantar digo que vou tomar um café num bar ou na estação do comboio.

Ela então tenta com sofreguidão me demover da ideia. Perigosos amigos do alheio, motoristas imprudentes, mudanças repentinas de tempo e outros argumentos similares são evocados.

Nada disso funciona, e ela dá a última cartada.

– Toma aqui em casa, Paulinho, tem um pomar cheio de ameixas aí fora.

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Divirtam-se em Beagá, jovens.

Conhecendo vocês acho improvável que isso aconteça, mas se alguém passar no Mercado agradeço se trouxer pra mim uma Porto Viana.

 

 

 

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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