A muvuca do longão

Paulo Vieira

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A gente prefere a USP assim
A gente prefere a USP assim

Nos anos 80, quando a gente… Pera, pera, para tudo, preciso dizer: como eu sonhava em começar um post com a adjunção adverbial (corrijam-me se não for isso!) “nos anos 80”.

Nos anos 80, quando a gente ia à USP aos fins de semana, não havia espaço nos gramados. Centenas, um milhar de pessoas vindas dos fundões da cidade juntavam-se em pequenos exércitos brancaleone e vinham bater uma bolinha à sombra do Relógio.

Em algum momento, porém, a festa foi proibida, e isso foi bem antes de derrubarem o Collor.

Hoje, todo mundo sabe, a USP é dominada pelos esportistas. Sábado é o dia oficial do longão, e dez entre dez assessorias esportivas levam seus alunos para correr e pedalar no campus. Segundo a prefeitura da USP, em resposta ao JQC, frequentam o local, por sábado, de 10 a 12 mil pessoas, “ligadas ou não às assessorias esportivas”.

Que são, por sábado, de 120 a 140.

Dez mil a 12 mil pessoas é gente pra caramba. Se meu time tivesse essa média de público, queria ver.

E como se administra isso? Tem a resposta pop e a pedante, escolha a sua:

a) como na música de “Frozen”: let it go.

b) à feição do liberalismo econômico clássico: laissez-faire, laissez passer.

Desde 2003, quando houve um acordo entre as assessorias, na época cerca de 30, segundo Nelson Evêncio, presidente da Associação dos Treinadores de Corrida de São Paulo (ATC), e o campus, não há um regimento que normatize o uso do espaço.

O mundão de gente que disputa as avenidas largas e arborizadas da USP não só entre si mas também com os carros e ônibus que circulam lá, já ensejaram esta reportagem da Runner’s, de autoria, veja só, da minha companheira Julia Zanolli.

Pelo acordo de 2003, que vigiu por apenas um ano, as assessorias pagavam uma pequena mensalidade, algo que seria “desejável” novamente na opinião de Ronaldo Martinelli, dono da assessoria 5 Ways. Ronaldo chama a atenção para o problema dos banheiros. “Para usá-los aos sábados é preciso negociar, tudo depende do humor dos porteiros. Muitos homens resolvem o problema na via pública.” Evêncio, da ATC, acha que é fundamental ter regras para utilização do campus e se diz à espera de um chamado da USP. “O campus é grande, comporta todo mundo, mas é preciso controlar grupos com muitos corredores juntos, os fluxos de estacionamento.

“E pode chegar ainda mais gente quando ficar pronta a ciclopassarela que irá ligar o campus ao Parque Villa-Lobos.”

A passarela, cuja obra só começou estes dias, após ter passado o prazo prometido para sua entrega, deve demorar bastante, para tristeza dos ciclistas da cidade.

A Prefeitura da USP, por meio de sua Assistência Técnica de Relações Institucionais e Comunicação, disse ter iniciado um “levantamento mais cuidadoso” sobre a utilização do campus pelos esportistas. Veja aqui as respostas do órgão ao questionamento do JQC.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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