SÓ SE FALA DE OUTRA COISA, mas domingo é Dia M, dia que eu e mais uma rapa de neguinho alinham para a maratona de São Paulo. Será minha segunda maratona, novamente a de SP.
E, de novo, uma maratona organizada pela empresa responsável pela São Silvestre e outros eventos tremendamente criticados pela comunidade corredora: a Yescom/Botanic Garden Inc.
3:46, A MARATONA DE SP EM TEMPO VIVACE
3:46, A MARA DE SP EM TEMPO ANDANTE MODERATO
PIPOCA NA MEIA INTERNACIONAL DA YESCOM
PIPOCA, A VERSÃO DA YESCOM
O MURO DOS 30-35K
É A CABEÇA, ESTÚPIDO
PASSEIOS MAROTONÍSTICOS DA MEMÓRIA
SÍNDROME DE LINHA DE CHEGADA
Poucas coisas podem ser mais mutáveis no mundo do que essa prova. Quando não muda de data, muda de percurso. O padrão normal é que ambas as coisas sejam alteradas de um ano para o outro.
De 2015 para 2016, a data mudou, e com isso, claro, perdemos todos. Naquele glorioso 17 de maio, quando cravei meu célebre 3:46, chegava até a fazer um pouco de frio às 7 da manhã. (Ou, para ser mais justo, o que dona Natália, minha mãe, chamaria de “aragem”)
Próximo domingo, neste verão prolongado de outono, a previsão é de uma largada a 23 Celsius e chegada a 28 graus. PQP.
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Mas de 2015 para 2016, por alguma conjunção astral raríssima, o percurso permaneceu igual, com suas chicanas no Alto de Pinheiros e o grande retão empoeirado do Jaguaré.
E já que, como Pedro e Bino, conheço cada palmo desse chão, vou comentar o melhor e o pior do percurso da Mara de São Paulo.
PERRENGUES
Km 3 – Você já veio emparedado como numa lata de sardinhas do dr. Smith pela avenida República do Líbano, fez sabe Deus como aquela conversão à direita para a Moura Andrade/JK, e aí tem de emparedar um pouquinho mais para entrar no túnel que passa sob a Santo Amaro. Para conseguir correr aqui só saindo com o pelotão de elite.
Km 6 – Agora já sem o pessoal que alinhou para a prova de 3,2K (ou 2 milhas, na nomenclatura entreguista da Yescom), primeira subidinha, só para você não ficar se achando. Ponte da Cidade Jardim.
Km 10/11 – Com os corredores da prova de 8K (ou 5 milhas, na nomenclatura pernas-abertas-para-o-domínio-de-nossos-corações-e-mentes pelos estrangeiros) já tendo feito seu serviço, primeira subida verdadeiramente exigente: a da ponte da USP.
Kms 12-20 – Sequência surreal de chicanas, cotovelos e sim, retornos, pelo Alto de Pinheiros, com ida e volta pela avenida Pedroso de Morais.
Km 20 – A mesma subida da Ponte da USP lastimada há cerca de 45 minutos, agora tomada no sentido contrário.
Kms 24-27 – Pior cenografia possível: depois de um gigantesco edifício neoclássico desses que ocupam antigas áreas degradadas para gáudio da nova classe média-alta, uma fábrica fumarenta de produtos alimentícios é tudo que nos acompanha na avenida Escola Politécnica.
Km 28 – Esse é para os fortes. Subidinha conhecidíssima dos corredores que treinam na USP, entre a estátua do “Cavalo” e o Bosque da USP. (O “Cavalo”, nos diz a Wikipedia, é uma Homenagem a Ramos de Azevedo – nas mãos do cavaleiro está a deusa Nike, ou Nice, que representa a vitória). Pauleira.
Km 31 – Pior chicana do mundo, digna de prova de 21K dentro do campus da USP: ida e volta pela avenida da ECA.
Km 37 – Desgraça pouca é bobagem. Prepare-se para descer para as entranhas da Pauliceia, cortesia de grandes políticos que aqui viveram: Jânio Quadros e Paulo Maluf. Faça como os motoristas e cruze o rio Pinheiros SOB ele, no longo túnel que liga o Jockey Club à avenida JK.
Km 39 – Só para não perder o costume, mais um túnel, essa já enfrentado no começo, sob a avenida Santo Amaro.
Kms 40-41 – Você ainda não está perto o suficiente, acredite, para dar de barato que vai conseguir terminar. Cabeça de maratonista é uma doideira. A esperança, afinal, é a única que morre. Prepare-se para sofrer com a Síndrome da Linha de Chegada.
LENITIVOS
Kms 12-20 – O itinerário é surreal e cheio de 180 graus, mas as áreas sombreadas e gramadas são commodity. Aproveite.
Km 27 – Aqui o pessoal que correu a prova de 24K (ou 15 milhas, na nomenclatura laissez-faire laissez-passez que somos subdesenvolvidos mesmo) paga pau bonito pra gente. O povo terminou sua prova, que não foi bolinho, e fica ali a contemplar os maratonistas, pensando no Efeito Orloff. Eu mesmo passei por isso em 2014, quando fiz a então chamada 25K – o entreguismo viria forte apenas em 2015.
Km 30 – No chão, não vou estragar a surpresa, uma mensagem muito bonitinha torna os 12K restantes e o encontro com o MURO muito mais agradáveis.
Km 38 – Sair daquele túnel: não tem preço.
A altimetria da prova é pouco relevante, oscilando menos de 50 metros entre seus pontos culminantes. O site do evento traz um gráfico detalhado, em todo caso.
Para quem não sabe ou não tem idade para entender o Efeito Orloff:
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