Maratonas dentro de casa

Paulo Vieira

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UM IMPASSE VEM DOMINANDO os fóruns de corrida durante a pandemia. Corredores que ainda vão às ruas tentam justificar nesses grupos sua posição ao afirmar que não mantêm qualquer contato com outras pessoas e, portanto, não espalham o vírus nem o trazem para casa.

É aceitável a argumentação, mas insuficiente. Se todos forem às ruas, muvucas de corredores se formarão – uma situação potencialmente perigosa e contra-indicada pelas autoridades (ainda) competentes.

Muvucas já se formaram, aliás, como eu pude ver na ciclovia da avenida Pedroso de Morais, no Alto de Pinheiros, em São Paulo, no fim da tarde de sexta passada. Com o agravante de que, com o fechamento dos parques, o canteiro central arborizado tornou-se verdadeira pista de corrida.

Para muita gente, correr da sala para a cozinha do próprio apartamento é inviável. O parça Lula Holanda, 65 anos, fundador da Acorja, o maior grupo de corrida do Brasil, pensa diferente.

Com 105 maras no currículo, o também ultramaratonista e organizador da Ultra do Frio, 100K entre Caruaru e Garanhuns (ou vice-versa), desafiou-se a fazer dez treinos de 10K em seu apartamento a poucas quadras do parque da Jaqueira, QG da Acorja, no Recife.

Cada volta entre a varanda e o corredor de serviço do andar, voltando então à varanda, dá 40 metros. Ele percorre esse “circuito” 250 vezes.

Lula tem corrido esses 10K em 1h30.

O Jornal Nacional levou seu exemplo ao ar na última sexta. A reportagem sobre o Lula, vendida como “exemplo mundial” na adaptação ao confinamento, aparece no minuto 59:

Ao JQC anteontem, Lula disse o seguinte, com a simpatia que lhe caracteriza: “Valeu campeão! Muito obrigado e vamos correr ou fazer nossos exercícios dentro de CASA. Amanhã teremos o sétimo treino de 10 K. Vamos nessa campeão? Abraço.”

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Na França, um maratonista foi mais longe. Elisha Nochomovitz postou que correu os 42,2K da mara em sua exígua varanda de 7 metros. Frustrado com o cancelamento da mara de Barcelona, fez um pace duas vezes mais lento do que o habitual, concluindo o cascalho, segundo o que postou, em 6:48.

Fiz contato com ele pelo instragram, e ele disse ao JQC que vem mais por aí: [Agora são] “poucos dias de descanso e o retorno à minha varanda para mais.”

E para não fugir da raia, eu também estou vencendo o tédio dentro de casa. A goma aqui é casa mesmo, um sobrado, e ontem consegui a proeza de correr 1h01 ao ar livre. Num cálculo otimista, uns 10K.

Na semana passada mostramos aqui que o mineiro Nilson Lima, que este ano se preparava para concluir sua 300ª mara, anda fazendo 12K no próprio apê de Uberlândia, em circuito um pouco mais generoso, de 120 metros.

Para quem não tem essa pachorra – ou espaço, mesmo –, uma solução muito interessante é se dedicar ao treinamento funcional. Veja séries completas de exercícios aqui.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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