Jeri

Paulo Vieira

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VINDO DE UMA PEQUENA TEMPORADA em Nova York, cidade que desconhece o silêncio, não dava para trocar de metrópole sem mais aquela. Então dei um jeito de pegar a Estruturante e vir parar aqui em Jericoacoara.

A ex-meca hippie parecia a 25 de março num sábado de dezembro quando cheguei por aqui sábado passado. Fiquei assustadíssimo. Embora não tenha pegado bicho do pé nos primórdios de Jeri, jamais vi tamanha muvuca nas outras vezes que estive aqui.

Mas como tudo na vida é passageiro (exceto o…), a tigrada se esfumaçou no domingo, e os dias ficaram um pouco mais sossegados.

Embora esteja aqui cumprindo uma programação digna de deputado do Centrão em voo presidencial, não poderia ir embora sem desfrutar do cascalho maravilhoso deste lugar, basicamente areia, areia, um pouco mais de areia e areia.

Fofa.

Foram cerca de 53 minutos da Duna do Pôr do Sol rumo oeste, rumo Mangue Seco, e retornando ao ponto inicial, a tempo de ver o grande espetáculo que dá nome ao mais famoso acidente geográfico de Jeri (e que não chama Pedra Furada).

Deixei escrito na areia: Eu corri aqui/Foto: Alana Ribeiro/Wikimedia Commons
Deixei escrito na areia: Eu corri aqui/Foto: Alana Ribeiro/Wikimedia Commons

Sem atinar, fiz o treino de força mais pesado da minha curta história de maratonista.

Não há nada como nossas pernas e pés descalços em termos de tração (bem, talvez um quadriciclo), mas subir duna, correr em areia muito fofa e muito branca e entrar constantemente em alagados exigem bastante do caboclo.

Mas estou a sonegar outra variável que aqui em Jeri não tem nada de variável: o vento.

Na hora que fiz o retorno em direção a Jeri, senti uma força de resistência que me lembrou aquele exercício em que um parceiro nos puxa com um elástico enquanto tentamos, debalde, correr para sair do lugar.

Não tinha, para variar, nenhum aparato fotográfico comigo, mas a visão da duna branquíssima se confundindo com o céu já bem menos iluminado pelo sol – o mar não aparecia no quadro – quase me causou uma alucinação visual.

Não sabia se o que via era céu ou mar.

Eram dunas.

Aprendi que endorfina não causa alucinações, e eu não estava num ponto de exaustão física – fazia, suponho, 28 graus, fichinha perto de SP e Rio –, que justificasse aquela trip mucho lôca.

Foi uma das corridas mais bonitas da minha vida. Saio daqui amanhã logo cedo, portanto há tempo para um repeteco. O diabo é que o pessoal do bar pé-na-areia deste hotel vive dizendo que tá cedo, por que já vai, fica mais um cadinho.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

Um Comentários

  1. Avatar
    Cezário Aschar

    Que maravilha!
    Dá vontade de sair correndo, ops, de pegar um voo e conhecer esse belíssimo paraíso chamado Jeri.

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