Uma bota espacial nos pés

Paulo Vieira

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TENDO ME TORNADO UM ARAUTO do minimalismo nos pés – arauto pelo menos para mim mesmo –, eu jamais imaginaria que um dia conseguiria me entender com um Hoka One One.

Nos tempos dourados e evanescentes do minimalismo, quando o Five Fingers e seus descendentes viraram uma religião, o Hoka One One se estabeleceu explorando justamente o polo oposto.

“Maximalista” foi o adjetivo que os próprios estrategistas da marca usaram para definir seus produtos, marcados pelo solado altíssimo, perto de 4 centímetros.

A marca, criada por sujeitos que trabalhavam na Salomon, e que, portanto, tinham a montanha como norte, logo foi adotada por trilheiros. Os Hokas queriam produzir um tênis para quem desce as pirambeiras no pau, com estabilidade suficiente para a tigrada não deixar o metatarso pelo caminho.

Como já aconteceu comigo, aliás, na Mantiqueira, quando eu estava usando um… Nike Free – leia ou releia sobre a presepada no primeiro link abaixo.

MEU PÉ ESQUERDO

JQC TESTA O KANGOO JUMPS

NIKE FREE E SEUS AMIGOS

Enfim, a experiência de ter um par de Clifton nos pés me lembrou um pouco quando eu corri uns 10K com uma Kangoo Jumps, aquela bota que parece um patim.

Foi sábado, aqui na ZO mesmo, num test drive feito pela representante da Hoka One One no Brasil em consórcio com a loja Velocità. O grupo de testadores foi liderado pelo treinador Sidney Togumi, que em preleção nos mostrou o tal “efeito marshmallow”.

A ideia é que o pé não vai em cima de um salto de 3,5cm a 4cm, mas “dentro dele”, por conta da maciez do solado.

Corremos pela ciclovia da Faria Lima até o parque Villa-Lobos e daí voltamos, e enquanto o Clifton esteve sobre o piso duro, não tenho do que me queixar.

O problema era quando eu ia para a grama, e aí o tênis sambava que era uma doideira.

Togumi, que é trilheiro experimentado, disse que o equipamento de trail da marca, com grip, é bastante bom para o serviço na montanha.

O tênis de trilha ainda não é comercializado pelo representante oficial no Brasil.

Oxalá Togumi esteja certo. Eu aumentei um pouco o test-drive, dando uma volta pela grama no Villa-Lobos, e, se não fiquei à vontade como quando tenho o Free nos pés, não corri riscos. Apesar da altura desproporcional, o tênis é confortável e leve: pesa menos de 300 gramas.

Pra variar, custa uma paulada em Piratininga, cerca de R$ 800. Na Trumplândia, US$ 130.

Se eu compraria? Não. Mas o teste ajudou a diminuir meu preconceito em relação a tênis altos, esses que lembram botas espaciais.

E quanto ao sujeito que inventou a expressão “efeito marshmallow”, esse deveria ganhar uma bonificação para o resto da vida. A frase parece até parece ganhar fundamento científico quando alguém apresenta um Hoka One One a um interessado.

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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