Força, foco e fé. Você precisa disso para correr?

Paulo Vieira

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QUANDO A GENTE GANHA NOSSO primeiro filho, e quando isso acontece entende perfeitamente o porquê do verbo “ganhar” ser empregado aí, aprende de quebra uns jargões da maternidade.

Um desses jargões é poderoso, nível segredo do universo. É a história dos três “F”. Se o bebê chorar, das três uma: ou é fome, frio ou fralda. Se não for isso, melhor colocar as barbas de molho e voltar correndo para o hospital.

Na corrida, coincidentemente, usam-se também os três “F”. Mas aqui é força, foco e fé. Quem se prepara para uma prova que julga importante costuma dizer que esses são os ingredientes necessários para se dar bem.

É curioso que ninguém coloque uma outra letra aí, um “p”, de prazer, ou, para forçar a barra, mais um “f”, de “fun”.

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Porque você não vai a lugar algum apenas com força, foco e fé.

Força e fé até dá para entender, ainda que sejam conceitos redundantes, dois efes que valem por um. Afinal, força entra aí como um augúrio, uma sugestão de que é preciso não esmorecer, ir até o fim. Ou seja, fé.

Já foco é um desses conceitos coringa que nada dizem. Numa entrevista para o programa radiofônico Fôlego, pilotado pelos parças Ricardo Capriotti e Sergio Patrick, do sistema Band de rádio, o publicitário Nizan Guanaes falou de sua estreia na meia maratona, em Amsterdã, uma cara atrás.

Disse que foi bom não haver “bandinhas” de música pelo trajeto: ele precisava ter “foco” na corrida.

(Ele pode ter dito, por outra, não me lembro bem, que foi bom haver bandinhas na corrida: obrigavam-no a ter ainda mais foco na prova).

Ora, correr é natural, e a partir de um dado momento da corrida esse tal foco vem naturalmente, é inútil tentar “focar”. Experimente ouvir música por 45 minutos, 1 hora, 2 horas ou mesmo elaborar algumas ideias. É quase impossível.

A corrida é uma experiência próxima da meditação, tem o condão de limpar naturalmente sua cabeça.

Você passa a maior parte do tempo a pensar em nada.

Ouvir Strokes ou o boletim do trânsito da CBN, como um cidadão fazia ao correr outro dia no parque Villa-Lobos, podem, de fato, ajudar psicologicamente o corredor. Placebo puro.

O busílis é que ninguém precisa de foco – ele já vem de graça com a repetição mecânica do exercício. O que o corredor precisa é gostar de correr.

Você pode até completar a prova para a qual aplicou diligentemente a hipótese dos três “F”. Mas e o ânimo para o que virá depois?

Disse na primeira dentição deste pasquim, não custa dizê-lo de novo: quer correr? Então comece pelo começo, gostando de correr.

 

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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