Dilma e a Specialized, Itamar e o Fusca

Paulo Vieira

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Não existisse o Plano Real, o legado dos curtos anos Itamar Franco seriam a política cultural do pão-de-queijo, o Carnaval da Lilian Ramos e a volta do Fusca. Curioso que o retorno à linha de montagem de um carro alemão seja a epítome do nacionalismo vigente daqueles anos.

Ainda não se sabe qual será o legado Dilma Roussef para a posteridade, mas se pode arriscar que estará mais para os quilos perdidos da dieta Ravenna do que para um arranque nacionalista. Ao menos o Executivo não nos constrange mais do que o neopentecostalismo do outro lado da Praça dos Três Poderes.

Pinto no lixo
Pinto no lixo

Ao aparecer outro dia pedalando uma bicicleta americana Specialized, aliás, Dilma mostrou que de simbologia verde-amarela seu governo está a pampa.

Por que não uma Caloi, eis a pergunta pertinente que os jornais não fizeram. É que os jornalistas sabiam, imagino, que a centenária empresa brasileira faz parte desde 2013 do portfólio de um polvo canadense, a Dorel, e o velho mote “Eu quero a minha Caloi” hoje teria que ser reescrito assim: “Eu quero a minha Cannondale Sports Unlimited Brasil”.

O Fusca americano da Dilma
O Fusca americano da Dilma

Além disso, uma Specialized é uma “bike” de primeira, como explica o nosso herói Guilherme Cavallari, o homem que passou 180 dias pedalando até os confins da América do Sul, e sabe bem o que é necessário para que uma bicicleta seja boa.

A Dilma só acertou uma coisa no governo dela até agora: pedalar uma Specialized! Hahaha. Não tem quadro nacional nenhum que chegue perto do da Specialized. Nem que chegue longe. Se fosse para pensar numa simbologia nacionalista anacrônica, ela poderia escolher uma Barra Circular, que é a bike com a “cara do Brasil”. Obsoleta e teimosa.

Gui disse ainda que se tivéssemos uma fábrica de bicicleta boa no país, ela não seria exatamente uma fábrica, mas uma montadora de peças importadas. “Os componentes são todos importados de duas ou três marcas fortes, como a Shimano. E com o invenção do quadro de fibra de carbono, nem quadro dá para fazer mais com um mínimo de tecnologia. O Brasil está absolutamente fora do mercado produtor de bicicleta.”

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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