Uma estreante em maratona – e logo em Curitiba

Paulo Vieira

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A JORNALISTA CAMILA BRAGA entrou em contato pelo Facebook do JQC para falar que estava para encarar sua primeira maratona neste domingo.

E que maratona, senhores.

Aquela que quando me falam dela, eu desconverso.

Camila estreia nos 42K em Curitiba, prova cuja altimetria é, para ser sucinto, bastante exigente. Ela começou a correr faz apenas três anos e em 2016 iniciou-se nos… 10K.

Ela fala a seguir o que está sentindo a menos de 48 horas de alinhar no Centro Cívico.

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DOIS DIAS. POUCO MENOS DE 48 HORAS. Esse é o tempo que separa esta agonizante, trêmula e constantemente ansiosa pessoa que lhes escreve da largada da sua primeira maratona, a de Curitiba. E olha, só de falar o nome “maratona” já da vontade de ir ao banheiro. De novo.

Lembro quando comecei a correr. Na academia, como parte dos treinos. Um dia meu professor perguntou: “Por que você não se inscreve numa prova de rua?” Tá maluco?  Eu via aquelas pessoas que participavam dessas provas como super-humanos. Parecia algo muito longe da minha realidade. Será que dou conta? Será que sobrevivo?

E se não aguentar? E se tiver, sei lá, um mal súbito no meio da corrida? E se quiser chamar a minha mãe, coitada, que não vai estar nem acordada?

Medo define. Isso era  final de 2013. A prova, de 5K.

Hoje faço a contagem regressiva para a maratona com as mesmas perguntas. E outras, muitas outras. Minha mãe, essa sábia, me deu um ótimo conselho: “Pare de chilique. É só uma corrida, não é vestibular nem nada”.  Thanks, mommy.

SE CONSELHO FOSSE BOM

Não existe fórmula mágica para se preparar para uma maratona. Foi o que conclui após muito me informar sobre o assunto. Porque, obviamente, o que uma pessoa estreante, ansiosa e temerosa – para não dizer outra palavra – mais faz é fuçar sobre o assunto.

Agora os 42K
Agora os 42K

Essa semana, enquanto revisava as dicas sobre alimentação e comia uma panela de brigadeiro quente (já disse que sou ansiosa?), me deparei com um vídeo de uma treinadora que dava duas importantes recomendações para estreantes em maratona:

– Ter feito umas quatro meia maratonas (ops, eu só fiz uma: passa o brigadeiro!)

– Evitar estrear em Curitiba, considerada uma das maratonas mais difíceis do Brasil. Oi? A essa altura a panela de brigadeiro já tinha acabado, a língua já estava queimada e eu gritava com a treinadora do vídeo: “Moça, não diz isso não, pelo amor dos meus netos que eu ainda vou ter, ai minha Nossa Senhora dos Quilômetros, fazei com que todas as subidas virem descidas, ou retas, ou sei lá, não virem.”

Meus treinadores da Carbono Assessoria tentaram me tranquilizar, lembrando os longões e rodagens de 20K que já fiz. Disseram: “Tenha fé, você está preparada.”

O MEDO

Um dos sentimentos mais inexplicáveis, mais esquisitos e mais frequentes também é o medo. É incrível como ele é o responsável pela dor no peito, pela língua amortecida, pela dor de barriga (ok, o brigadeiro também ajuda) e por muitos outros aspectos físicos.

Mas medo de quê, cara pálida? Se minha única obrigação, é, em tese, me divertir? Aproveitar o momento? Me sentir realizada?

CORRIDA É PRAZER, NÃO SACRÍFiCIO

MINHA PRIMEIRA MARATONA, VIVACE

DOS BARES DE CURITIBA PARA AS ULTRAMARATONAS

Bem, não é assim que a gente funciona. Desde que eu me inscrevi para essa maratona, optei por manter isso em segredo – o que não vai dar muito certo quando este texto for ao ar. Meus amigos não sabem, meus colegas não sabem, minha família não tem muita ideia do tamanho disso.

Quanto menos gente souber, menor a cobrança. “Ah, você corre faz tempo, vai fechar pra quatro horas”. “Ah, vai tirar de letra, imagina, vai super bem”. “Não me vai caminhar, hem?”

Dica: se há alguém que corre na família ou entre seus amigos, nunca fale uma dessas coisas para ele ou ela. Porque a gente se cobra, e muito. E se tiver o peso dos outros, fica bem mais complicado.

Então sim, parte do meu medo é decepcionar. Parece bobo, mas é. É não ser boa o suficiente, não me divertir o suficiente, não dar conta o suficiente.

E claro, isso aumenta a ansiedade, que aumenta a vontade de comer brigadeiro, que ainda bem que acabou o leite condensado aqui de casa.

LET IT GO

Vamos ao que importa, a maratona vai acontecer e eu vou estar lá. Pelo menos no inicio. Como vou chegar, só o futuro sabe. Mas sei que toda essa minha ansiedade e nervosismo (e graças a Deus, as calorias do brigadeiro) no final vão ter sumido, resultando aquela sensação boa que só quem corre, só quem se desafia, conhece.

Então o importante é meter a cara e ir, tentar não se cobrar tanto (mas né, essa cara sou eu!) e aproveitar o máximo porque sabe-se lá quando vou ter leite condensado o suficiente para me preparar para uma próxima.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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