Sextou: dia de celebrar a endorfina e a levedura (mas com ciência)

Paulo Vieira

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CELSO FIORAVANTE, O INQUIETO COLEGA hoje editor do Mapa das Artes, com quem trabalhei no caderno Ilustrada, da Folha de S.Paulo, nos já longínquos anos 1990, costumava usar a expressão recycling journalism quando lançávamos mão de material adrede publicado para com aquilo fazer uma nova publicação.

De limões já exprimidos fazer uma nova e rala limonada. Bem, até aí morreu o Neves: não só o jornalismo se alimenta constantemente do déjà vu, diz-se que todos os temas que importam no teatro já estavam nos gregos, donde Shakespeare pode ter sido não mais do que um muito hábil curador.

Nos versos famosos de Paulo Leminski, adaptados por Itamar Assumpção:

“O novo/ não me choca mais/ nada de novo/ sob o sol/ apenas o mesmo/ ovo de sempre/ choca o mesmo novo.”

Pra variar, excedo-me nos prolegômenos, equivalente filosófico para o que jornalistas chamamos de nariz de cera. Vamos então ao que interessa.

Hoje, 19h30, falo em live do tema que justifica a existência deste pasquim: a união da corrida com o prazer, endorfina com botecagem, levedura e maratona.

Vai ser no perfil do instagram @spculturadeboteco, do parça Miguel Icassatti. Pia lá.

E de volta ao que embasa o nariz de cera acima, mergulho sem cerimônia no que já escrevi aqui mesmo, uma postagem de 2015 que me parece bastante adequada para esta sexta-feira.

Tratava-se então de levar a lume estudos científicos que evidenciavam um correlação saudável entre o consumo de cerveja e a atividade física.

Os estudos foram objeto de reportagem do jornal The New York Times assinada pela à época setorista de corrida, ou algo que o valha, Gretchen Reynolds, nome que para este editor soava e ainda soa francamente implausível.

Foto Randall Cottrell/Flickr

Bora então:

“A repórter Gretchen Reynolds apresenta uma charada interessante, algo que no Brasil ficou conhecido como axioma de Tostines: é a atividade física que estimula o consumo de bebida alcóolica ou é o consumo de bebida alcóolica que estimula a atividade física?

Reynolds exibe então um estudo da Universidade do Estado da Pensilvânia com 150 adultos, homens e mulheres, que se dispuseram a usar um aplicativo que registrava as frequências de atividade física e consumo de álcool. O pressuposto era que os voluntários, três vezes ao longo de um ano, registrassem 21 dias consecutivos de suas vidas no app.

BEER MILE, A CORRIDA DA CERVEJA

ADÁGIOS SOBRE A CORRIDA

CORRIDA É PRAZER

Uma das conclusões dos pesquisadores: as pessoas bebem mais quando se exercitam mais.

Outra: o exercício exagerado não leva ao abuso de álcool. Muito raramente um voluntário registrou ter bebido como um gambá, classificação técnica que os pesquisadores fixaram a partir do quarto copo.

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Um segundo estudo citado por Reynolds no artigo, este produzido pelo Laboratório de Neurociências do Comportamento da Universidade de Houston, sob direção de J. Leigh Leasure, apontou ligações entre certa dedicação maior à atividade física e uma “recompensa alcoólica”.

Para Leasure e equipe, “estudos com grandes universos de pesquisa vêm mostrando uma associação positiva entre atividade física e consumo de álcool”.

Sacou?

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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