Ananias

Paulo Vieira

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MINHA FILHA VITÓRIA ESTAVA PREOCUPADA. Não eram nem 7 da manhã e ela, circunspecta, foi até minha cama e disse: “Não queria ser eu a dar a notícia”. A notícia era a queda do avião da Chapecoense.

Ninguém da minha família, que eu saiba, esteve algum dia em Chapecó ou tem alguma relação com a cidade e seu time, mas algo nos unia particularmente à tragédia absurda e pavorosa do dia: a morte de um dos jogadores da Chapecoense, o atacante Ananias.

Ananias teve uma passagem luminosa pela Lusa quando do último momento luminoso do time, em 2011, quando a Portuguesa foi campeã da série B e passou para a história como “Barcelusa”.

E na Barcelusa Ananias era Ananiesta.

Em 2012, fui com minha família ao Sesc Belenzinho e, na saída, decidimos ir ao Canindé ver a Portuguesa, agora já de volta à Série A, enfrentar o Náutico. O jogo começava já de noite, às 18h30.

No caminho, ouvimos pelo rádio o gol do Náutico.

Chegamos ao estádio aos 20 ou 25 do primeiro tempo, por aí.

E então vi minhas duas filhas, à época com 7 e 4 anos, fazerem algo que eu jamais ensinei para elas. Era algo que tampouco jamais viram alguém fazer, pois era a primeira vez que iam ao estádio ver o time delas.

Vitória e Dudu subiram correndo a escada de acesso à arquibancada, na minha frente, com a mão erguida. E gritavam:

LUSA, LUSA, LUSA.

É a história que eu mais gosto de contar hoje em dia sobre o futebol. Pois revela certo encanto inexplicável, inato e imortal desse esporte.

E o futebol vai assim, de geração em geração, como um amálgama familiar absurdo.

PORTUGUESA, VOCÊ FAZ PARTE DE UMA GRANDE FAMÍLIA

De cabeça, Ananias fez o segundo gol da Lusa no segundo tempo, abrindo caminho para os 3 x 1 do placar final.

Todas as pessoas que estavam no voo fatídico merecem ser tributadas, mas a City Romana ficou hoje um pouco mais triste pela morte do Ananias.

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Disse que o primeiro jogo que Vitória assistiu foi a esse da Lusa contra o Naútico, mas, para ser justo com a história, há um outro.

Foi no Parque Antártica, ainda o Jardim Suspenso, anos antes de se tornar a Ananias Park, como hoje é conhecida.

Vitória tinha cinco meses, portanto só inconscientemente se entusiasmou com os dribles que o Diogo, mal saído do banco de reservas, deu em meio time do Santo André.

Surgia ali um dos craques rubro-verdes da última década.

Os gols de Portuguesa e Náutico seguem no vídeo embebido abaixo.

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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