Como correr sem pensar em política

Paulo Vieira

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HÁ MUITA GENTE QUE CONSIDERA o cascalho a sua própria sessão de psicanálise. Uma sessão meio mambembe, intuitiva, autoguiada, mas vá lá.

Pensamentos, ideias, críticas, eventuais mágoas e até algumas decisões vêm à tona quando você permite que sua mente fica longe de estímulos ou distrações.

E os 50 minutos, 1 hora, 1h30 de cascalho – não falo aqui de correr na esteira com uma TV ligada no Warner Channel na frente, claro – perfazem tempo generoso e privilegiado para você mergulhar lock, stock and barrels dentro da própria cabeça.

Nem sempre isso acaba bem.

E quando se está a quatro dias de uma eleição polarizada como a de domingo, é muito difícil não deixar a cuca se afundar na política.

Especialmente quando a cada dia as “instituições” produzem mais e mais barbaridades, para delírio de boa parcela da população.

Eis alguns exemplos recentes, numa seleção quase aleatória.

1) O juiz de Curitiba decide dar publicidade à delação do ex-ministro a seis dias das eleições. Detalhe: ele, o juiz, poderia ter feito isso há meses. Detalhe 2: a publicidade não ajuda em nada o processo, pelo contrário, dificulta a aquisição de provas, ao contrário do que ele argumenta.

Mas enfim, quem se importa com provas?

(O MP se importava, tanto que não se animou muito com o que ouviu.)

2) Juiz da mais alta Corte brasileira decide acolher instrumento inadequado juridicamente para impedir entrevista; caso entrevista já tenha sido feita, declara censura prévia, inibindo sua publicação. Presidente da Corte referenda a heterodoxia do colega.

3) Manifestação de temática feminista e claramente suprapartidária é tratada como tendo sido instrumentalizada pelo PT.

Sendo que no Largo da Batata, onde esteve Marina Silva, em São Paulo, havia em certas regiões mais bandeiras da chapa Ciro Gomes/Kátia Abreu do que vermelhas.

Acho datadíssimo o vocabulário de alguns amigos que gostam de usar expressões como “marcha da insensatez” e “lata do lixo da história”, mas tenho de admitir que o léxico passadista dos parças voltou a fazer sentido em… 2019.

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Se os exemplos citados acima te preocupam e você está a um passo da depressão, uma opção para relaxar a mente no cascalho é a pancadaria. Intervalados. Dar tiros.

CORRENDO COM ABRAMOVIC

DEVANEIOS DE UM CORREDOR SOLITÁRIO

ULYSSES GUIMARÃES NÃO FEZ A SELFIE

A MEDITAÇÃO ATIVA DE NUNO COBRA JR.

ALGO NÃO ACONTECEU NO MEU CORAÇÃO NA IPIRANGA COM A SÃO JOÃO

Pode parecer um paradoxo, mas o esforço cardiovascular máximo seguido de pequenos intervalos de descanso é uma  boa maneira de fazer o cérebro ficar alerta e se concentrar unicamente no socorro ao corpo que se está a meter numa bela enrascada.

Dá para chamar isso de alienação ativa®.

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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