HÁ BOAS RAZÕES para viajar a Treviso, no sul de Santa Catarina, para participar da maratona Uphill, prova bancada pela sucursal brasileira da Mizuno e realizada há seis anos pela empresa X3M (da XTerra).
Com inscrição oferecida pela Mizuno, estive nas duas últimas edições, a mais recente sábado passado.
Toda a comunicação da Uphill procura convencer o interlocutor da dificuldade de completá-la. A razão óbvia é a altimetria da serra do Rio do Rastro, mais de 1000 metros de elevação nos 7K finais da prova.
A piramba até faz o povo esquecer que os dois terços iniciais da corrida também são feitos em topografia acidentada, o que acaba por exigir bastante do incauto.
Mas é mesmo a pirambeira final, que é tratada como uma espécie de nêmesis dos corredores que a “desafiam”, a atração-mor da prova, razão dos competidores serem chamados pela organização de “ninjas”.
EDU OLIVEIRA, DA MIZUNO, EXPLICA A UPHILL
NINGUÉM VIRA NINJA POR CONCLUIR A UPHILL
DESCONSTRUINDO A MONTANHA
UPHILL 2018: ENTREVISTAS SUADAS
UPHILL 2017: ENTREVISTAS SUADAS
“Tartarugas ninjas” talvez fosse uma denominação mais precisa, pois só os profissionais ou amadores muito faca-nos-dentes não caminham por boa parte da serra.
Mas todo mundo gosta de cair nessa pregação para convertidos. Primeiro pela restrição técnica de vagas, que impele à realização de um sorteio, com chance de 1 para 7.
Estar lá, mesmo que terminando a prova acima das 6 horas – tempo máximo para fazer jus a uma medalha –, já é uma vantagem competitiva em relação àqueles que nunca foram.
Por isso não é difícil encontrar gente como o Paulo Fonseca, de São Paulo, o cara da Suada abaixo, que me disse que foi “chamado” para participar.
Quando eu perguntei quem o chamou, ele disse: “a Serra”.
Sábado passado, na reta final, quando a serra havia sido transposta e já era possível voltar a correr por 1K no plano, um sujeito falava alto para si mesmo e para quem estivesse ao lado: “Eu era gordinho, já tive 110 quilos e vou completar a maratona mais difícil do Brasil.”
Rolou um “glória a Deus”, também.
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Mesmo sem esse imaginário ninja, é bem possível que o evento tivesse se firmado, como se firmou, no calendário de principais provas de corrida do Brasil.
Ele é produzido com muita competência, e a estrutura de apoio para os participantes é elogiável. Senão, vejamos:
– A hidratação é farta, ainda que a água não estivesse gelada nos postos de 5K e 10K; o ótimo mix de grãos servidos num copo plástico no 21K é raro de se ver em provas de corrida.
– Há apoio médico móvel e fixo. E é importante que assim seja, pois hipotermia não é uma ocorrência inusual aqui.
– Pós-prova como poucos. Há oferta de massagem, frutas, caldo de feijão, chocolate quente, guarda-volumes móvel.
– Kit com camiseta de finisher.
– Transporte de retorno, ainda que pago.
O que dá para melhorar:
– Traslado de retorno. Embora ele só comece às 13h, quando o tempo de prova fecha, há que se fazer alguma coisa com a massa de corredores que a terminam entre 4 e 5 horas.
– Impossibilidade de retorno ao galpão pós–prova uma vez tendo saído dele. No frio enregelante de Bom Jardim da Serra, ficar desabrigado é um problema bastante sério. Talvez seja o caso de flexibilizar essa regra, embora o galpão não comporte nem de longe uma muvuca de 900 pessoas ali na mesma hora.
– Chuveiros. Seria pedir demais uma estrutura de vestiários? Talvez oferecido como serviço “premium”?
– Colocar um “m” na terrível frase “Aqui se fabrica ninjas” usada em banners, medalhas, painéis, o diabo. Mas pelas pedras atiradas no Instagram oficial pelo organizador da prova, o Bernardo Fonseca, da X3M, a correção da concordância não sai tão cedo.
Mando um salve para os leitores Bruno Espinoza e Angelo Caexeta por se preocuparem com a questão.
Foto da home: Cristiano Andujar/Divulgação
Concordo com relação ao Galpão pòs prova. Da mesma forma deveria ter uma estrutura de apoio aos que nos apoiam durante a preparação e seguem conosco, que são os familiares e amigos.