A vida após o stent

Paulo Vieira

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O CHECK-UP DE ROTINA NÃO VEIO COMO RALPH TACCONI, o monstro de Curitiba, imaginava, e o maratonista sangenozoio sub 3:20 se viu privado, do dia para a noite, de correr.

Pior, precisou dar entrada na UTI coronária para um cateterismo de emergência, e saiu de lá com um stent no corpo.

O calendário cheio de maratonas em 2018 foi para o espaço, sobrando a perspectiva de uma, em suas palavras, “Night Run de 5K no fim do ano”.

Mas qual a ave mitológica, Ralph já abriu uma temporada de détente com os médicos e começou a namorar de novo o cascalho. Ele explica.

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DUROU POUCO MAIS DE 40 MINUTOS. Terminei o trote me sentindo bem pois, apesar de tudo, tinha voltado a correr. Mas era diferente.

Queria ter sentido que era um recomeço, mas não. Estava aliviado, precisava daquilo. Lembrei dos dias no hospital, quando achei várias vezes que jamais voltaria correr.

Do mesmo jeito que a experiência aliviava, o desencanto também me dominava. Não queria acreditar que não era mais o mesmo.

UMA NOTÍCIA RUIM E OUTRA PIOR

O MONSTRO DE CURITIBA

RALPH TACCONI NA MARA DE BERLIM

RALPH NA MARA DE SOROCABA

RALPH NOS 2K DE ATLÂNTICO DA FUGA DAS ILHAS

VIEIRA: 58 DIAS DEPOIS, O RETORNO

Mas continuei. A nova rotina é insólita. Aqueles treinos em dias úteis de até 1:40 com o tempo de sono planejado deram lugar à mais absoluta tranquilidade.

Agora acordo mais tarde, enrolo, enrolo mais um pouco e só depois vejo a roupa e o tênis. Antes, era correria  – eu deixava a roupa separada, por exemplo.

Mais esquisito, há agora sessões de caminhada à noite.

Atividades aquáticas também. São relaxantes, estimulam um pouco, mas quando a coisa começa a ficar boa, babau.

Até aquela bike estacionária que curtia sua aposentadoria servindo de cabide lá em casa também voltou ao batente.

Sigo assim, dia após dia mantendo a planilha, realizando os treinos rigorosamente dentro do programado (tempo e FC).

Não perdi nenhum. Ansioso pra voltar em maio ao médico para uma nova atualização, para ver se posso dar uma forçadinha e as coisas se animam.

Nunca achei que fosse dizer isso, mas tenho sentido falta do sofrimento. De acordar pilhado, de sofrer, de acabar aquele tiro perto do coma.

Espero voltar a isso em breve. Tenho consciência e estou preparado para a possibilidade de que não aconteça, mas sigo na esperança de dias (= treinos) melhores.

O que temos no fim do ano? Nova York? Já pensou? Sabia disso, dr.?

Ainda é um sonho distante. Não sei, quem sabe?

Depende menos dos meus pés, mais das mãos dele.

Agora, se me dão licença, tenho de ir, senão perco o macarrão da piscina na aula de hidroginástica, e meus colegas experientes não gostam de dividir.

Beijo, crianças.

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

3 Comentários

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    Walter Xavier

    Parabéns, esse é o atleta guerreiro que eu conheço, que Deus ilumine seu caminho e proteja seus passos que com certeza serão velozes novamente.

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  2. Avatar
    Miguel Márcio Lima

    Com certeza, vai dar tudo certo. Deu certo comigo. Ás vésperas da minha primeira corrida de 10k, depois de muito tempo de sedentarismo, em 2014, sofri um infarto e saí do hospital com 2 stents. Depois de um período de reabilitação cardiovascular assistida, voltei aos treinos e, de lá pra cá, já estou indo para a oitava meia-maratona. Imagina então para um atleta! Claro que vai dar tudo certo!

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      LUCELIO VITORIO CROSARIOL

      Olá Miguel. Você ainda corre?

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