Correndo no shopping

Paulo Vieira

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NÃO FORAM POUCAS AS VEZES que este pasquim identificou a corrida com o desfrute da natureza, com o prazer de usufruir da própria cidade ou com uma espécie de super-empoderamento (até tu, Paulus?) para o turismo. Vide os links abaixo.

A CORRIDA COMO SEU PRÓPRIO ÔNIBUS DE TURISMO

ALGUMA COISA NÃO ACONTECEU NA IPIRANGA COM A SÃO JOÃO

NOVA YORK, I DID IT MY WAY

Assim, a defesa de se correr 8K DENTRO de um shopping por este JQC soa como um despropósito, ou para atualizar uma velha explicação picareta do Barba, coisa de quem é uma “metamorfose ambulante”.

A SP Run, que acontece duas vezes por ano em São Paulo, é assim, dentro de um shopping, e as corridas de 4K e 8K e a caminhada de 4K não só são inteiramente indoor porque começam na área aberta de estacionamento do SP Market, ao lado da estação do trem Jurubatuba, zona sul de Sampa.

É uma coisa “maluca”, como define o idealizador e organizador da prova, Alessandro Zonzini, da empresa Sports Fuse, que falou com este pasquim por telefone. A SP Run já vai para sua 11ª edição, o que significa que há um razoável número de pessoas que aprecia a maluquice.

É a única corrida dentro de shoppings do mundo, segundo Zonzini.

Imagina na Black Friday/Foto Sports Fuse
Imagina na Black Friday/Foto Sports Fuse

São 2 200 corredores nas provas de 4K (uma volta) e 8K (duas voltas) dentro do “mall”. O número de participantes já foi maior, mas obras no shopping limitam as vagas nesta edição.

Parte do percurso passa pelo parque da Turma da Mônica, atração do SP Market, que antes ficava no shopping Eldorado.

Os corredores percebem certas variações de temperatura durante o trajeto, pois há a largada na área descoberta, o trecho de 1,5K no edifício-garagem (sem ar condicionado) e outro 1,5K na área das lojas, que é climatizada, mas, segundo Zonzini, sem exageros. “A gerente de marketing do shopping é corredora e jamais iria querer o ar muito forte para ninguém sair de lá doente”, diz Zonzini.

Se muita gente franze o cenho para um evento desse tipo, por claustrofóbico ou algo do tipo, há pessoas que podem se interessar pelo aspecto econômico da coisa. Sem a necessidade de bloquear ruas e consequentemente pagar os devidos emolumentos à prefeitura – algo que Zonzini calcula em 30% a 40% do custo de um prova comum de corrida em Sampa –, ele pode comercializar kits a preços mais simpáticos. No caso, R$ 75.

Além disso, não é preciso acordar com as galinhas para alinhar com a tigrada. A corrida começa em horário um tanto mais civil, às 8h30 para os 4K e 8h40 para os 8K e caminhada.

Pretendia fazer uma blague com aquela música do Depeche Mode – “once i run to you/ now i run from you” – em que “you” seria, tipo, shopping.

Não ficou bom.

 

 

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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