O grande problema da esteira

Paulo Vieira

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ESTEIRA É UMA INVENÇÃO SUPIMPA. Traz a possibilidade de o caboclo ter uma melhor condição física sem sair de casa. E é esse, como se sabe, o grande problema dela.

Fiquei pensando: por que correr em esteira é um troço tão chato e uma aula de spinning, não?

Você pode usar os mesmos estímulos: som, picos de intensidade, subidas, até mesmo um professor, se isso apetecer.

Mas só vai funcionar mesmo se colocares uma venda nos olhos.

A ESTEIRA SEM MOTOR

CORRER EM ESTEIRA VALE?

MATE ALGUNS CICLISTAS E TALVEZ AÍ VOCÊ TENHA A SUA CICLOFAIXA

DO QUE FALO QUANDO NÃO FALO COM MURAKAMI

CORRENDO COM ABRAMOVIC

O DESAFIO 24 HORAS DE CARLOS “CARLÃO” DIAS

O escritor japonês Haruki Murakami vai ao ponto no tão citado livro Do que eu falo quando eu falo de corrida.

“O que exatamente penso quando estou correndo? Não faço a menor ideia.”

E logo explica: “Apenas corro. Corro num vácuo. (…) Os pensamentos que me ocorrem quando estou correndo são como nuvens no céu. Nuvens de todo o tamanho. Elas vêm e vão, enquanto o céu continua o mesmo céu de sempre.”

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Já tive aqui a vontade – tava mais pra veleidade – de coligir o pensamento de numerosos corredores quando correm. De gente treinando para o primeiro 5K ao Carlão, o ultramaratonista que atravessa o Brasil correndo.

esteirasimulador

Mas fui notando, em entrevistas aqui e ali e em minha própria experiência, que não produziria um conto com isso. Corredores quando correm pensam muito pouco. Nuvens que vêm e vão.

De volta, então, à esteira. Ao subir na traquitana, qual a primeira coisa se faz depois do ajuste de velocidade? Sintonizar o canal a cabo ou virar os olhos para a Ana Maria Braga no monitor do meio da sala.

Nada poderia conspurcar mais o “vácuo”, as “nuvens”, na imagem do Muraka. Exatamente o que talvez seja a parte mais essencial da corrida: a disponibilidade que ela nos dá para nos livrar do mundo exterior.

Por mais que você fique uma hora, 1h30 no aparato, é como se a reprise de Grey’s Anatomy ou o Louro José jogasse fora todo o efeito tônico e purificador que a corrida leva ao espírito.

Sim, é do espírito que se trata. Para correr é preciso estar desprovido de estímulos para assim tentar encontrar ou aproximar-se do vácuo.

Como numa meditação.

Experimente os dois modelos, se quiser tirar a teima. Uma corrida outdoor sem fones de ouvido e uma outra em esteira.

Spoiler: ARIETSE ME RERROC ARAP ÀD OÃN

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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