Preparado para o Brasil

Paulo Vieira

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EU IA PASSAR BATIDO PELO ASSUNTO, pois todo mundo que pedala com alguma frequência já o conhece.

Mas o negócio é tão surreal que não dá para ignorar.

Há um passeio ciclístico que se tornou objeto de romaria. Trata-se de evento que ocupa a Rota Márcia Prado, cujo nome homenageia a cicloativista morta na avenida Paulista em 2009. O Vadebike explica melhor quem é ela aqui.

O passeio acontece sempre no primeiro ou segundo domingo (às vezes sábado) de dezembro. Sai de São Paulo pelos fundões do Grajaú, atravessa dois ou três braços da Billings e vai até Santos pela Estrada de Manutenção da Imigrantes, uma via paralela à famosa rodovia.

A estrada é praticamente deserta, com direito a cachoeiras e passagens de nível, e ela se conecta com o parque estadual da Serra do Mar, núcleo Cubatão.

Eu e meu parça Almeidinha já participamos do evento, há seis anos. Na foto, estamos na cachoeira da Macumba, uma das que a gente vê ao longe quando está de carro na Imigrantes.

O editor deste pasquim (esq.), que em 2011 não conhecia muito bem o comércio de roupas e acessórios para ciclistas ao lado do mito do esporte Almeidinha “Lance” Colugnatti
O editor deste pasquim (esq.) e o mito do esporte Almeidinha “Lance” Colugnatti

Em dado momento é necessário pedalar por cerca de 7K pelo acostamento da via Imigrantes. E aí, dada a massa crescente de ciclistas nesses eventos, ocorrem bloqueios resultantes de ações judiciais impetradas pela concessionária Ecovias, que explora a estrada.

A concessionária vem tentando sistematicamente, ano após ano, impedir a descida dos ciclistas – uma daquelas coisas que são difíceis explicar sobre o Brasil para um gringo.

Pois bem, este ano as autoridades “competentes” chegaram ao estado da arte da estupidez. A Ecovias novamente apressou-se em conseguir uma liminar na Justiça, e, de posse dela, conseguiu mobilizar a sempre prestativa polícia militar para bloquear a estrada.

Num bloqueio já na Anchieta, com milhares de ciclistas parados, famílias e crianças entre eles, começou o festival do Gás Lacrimogênio da Serra.

O vídeo abaixo é bastante pedagógico. Espirros, pigarros e asfixias não são técnicos. Guarnição especialmente convidada: Tropa de Choque.

Não bastasse essa performance, as redes sociais foram brindadas sábado passado, seis dias após o  evento, com o seguinte cartão motivacional do governador Geraldo Alckmin, a quem a PM é subordinada.

Recomendo vivamente a leitura dos comentários postados pelos internautas.

Sobre o slogan-hashtag de ambição federal do pedalante, assaltou-me uma dúvida. Achava de início que os marqueteiros digitais do governador-candidato investiam na mais fina ironia, mas começo a pensar que Alckmin o leva muito a sério.

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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