Desconstruindo a Uphill

Paulo Vieira

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PARA QUEM É USEIRO E VEZEIRO em corridas de montanha não há nada de especial em participar da Mizuno Uphill. A subida abrupta da Serra do Rio do Rastro, justamente depois do “muro”, entre o 33K e o 41K, já foi vivida, em versões alternativas e certamente numa experiência mais íntima com a natureza, por muita gente que sai do asfalto para correr por dentro de propriedades rurais ou por estradas vicinais.

ESPECIAL UPHILL – 899 NOVOS AMIGOS OU: QUE ACONTECE QUANDO RELÓGIO PARA DE FUNCIONAR

ESPECIAL UPHILL – SEM ESSA DE NINJA

ESPECIAL UPHILL – ENTREVISTAS SUADAS/NILSON PAULO DE LIMA

ESPECIAL UPHILL – ENTREVISTAS SUADAS

Mas para o corredor de rua, certamente a grande maioria na famosa prova da Mizuno disputada sábado passado em Santa Catarina, o troço tem tintas de Monza, Indianápolis, Le Mans, Interlagos nos 1970.

Para quem não sabe, 100% do percurso é sobre asfalto – não tem conversa.

A Mizuno, criadora e proprietária do evento, desde o começo fez o negócio direito, objetivando gerar o buzz que agora voa em velocidade de cruzeiro, restringindo o acesso e fomentando uma gigantesca lista de espera que só aumenta o desejo de participar da prova.

Segundo Eduardo Oliveira, gerente de marketing da Mizuno com quem falei ao fim da prova, foram 7 mil inscritos para as 900 vagas.

Por isso, não surpreende que patrocinador e organizador tratem os participantes não como corredores tirando um lazer, o que seria perfeitamente desejável e aceitável,  mas como “ninjas”; não como concluíntes (ou finishers, para usar a expressão entreguista), mas como “sobreviventes”.

Dentre as baboseiras que o locutor da corrida parecia não se esforçar (nem se constranger) em dizer, ouvi esta frase: “Não basta querer estar aqui”.

Não, não basta: precisa investir um pixo razoável e ainda passar no sorteio com chance 1 pra 7.

Porque não, absolutamente ninguém ali era predestino ou fazia parte de uma casta seleta de corredores, rótulos que  a Mizuno tenta obstinadamente pespegar nas costas dos corredores.

Isso é coisa para atletas olímpicos, e olhe lá.

E é exatamente do contrário que a Uphill se trata. Apesar da parede a ser vencida, só uma minoria dos participantes corre 100% dos 42K da prova. Para quem disputa “para” mais de 4 horas, caso do editor deste pasquim anteontem, andar é a tônica da subida. 

Com isso, no frigir dos ovos (essa fazia tempo que você não lia, hem?), correr forte e sempre uma maratona plana é mais exigente do que fazer a Uphill, caso você se permita andar na serra.

Eu andei por trechos intercalados que devem ter somado cerca de 2,5K a 3K, não tenho certeza. O que me fez travar muitas conversações com  diversos “sobreviventes”, que você vai ver conhecer a partir de amanhã nas tradicionais “entrevistas suadas”.

ESPECIAL MARA DO RIO – ENTREVISTAS SUADAS COM MARATONISTAS

ESPECIAL SPCITY MARATHON – ENTREVISTAS SUADAS COM MARATONISTAS

Das três maratonas de que participei este ano, esta foi a menos exigente justamente pelo relax da caminhada. Além disso, eu me poupei para a parede. Nos primeiros 30K eu corri num confortável pace 6.

Acostumado com o pace 5, eu “não deixei tudo”, como diriam os iniciados.

Assim ficou relativamente fácil cumprir em 4:44 (se me lembro bem do tempo marcado no relógio do pórtico de chegada).

Mas definitivamente eu não queria descer a pé tudo aquilo de novo para voltar ao carro largado a 42K de distância, ao pé do morro. Eu havia perdido o prazo pela organização para garantir a volta de ônibus para Treviso, mas os amigos da Mizuno deram um jeito.

Sobrevivente? Por favor, guardem esse rótulo para quem merece.

P.S.: O erro de concordância do que vai inscrito na medalha e em materiais expostos na prova me fez lembrar daquele velho filme, com a Gretchen, se não me engano, Aluga-se Moças.

Abrindo tudo/Disclosure: o editor deste pasquim teve a inscrição para a Uphill bancada pela Mizuno, assim como descolou com os parças um lugar no ônibus que desceu a serra de volta à Treviso, local da largada dos 42K.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

3 Comentários

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    Tadeu Góes

    “jeitinho brasileiro” de conseguir um lugar no ônibus, não ?

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  2. Avatar
    Nilson Paulo Lima

    Bacana Paulo, corremos ops, andamos e conversamos um pouco juntos… Desafiar a Serra e trabalhar ao mesmo tempo, deixa a tarefa ainda mais insana… Parabéns / Nilson Lima – Uberlândia-Mg

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  3. Avatar
    Reinaldo

    Erro de português? Pergunte a um professor, meu caro.
    Sinceramente, isso é papo de quem não conseguiu fazer o que previa.
    O resto é bla bla bla

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