Especial Mara do Rio: dura lex, sed lex

Paulo Vieira

Tag: , , , , , , , ,

PREMISSAS

1– Ninguém coloca uma arma na cabeça do caboclo e o obriga a correr uma maratona.

2 – Terminar uma maratona não é questão de sobrevivência. Nem física nem psíquica.

2 § 1 – Às vezes deixar de terminar, curiosamente, é

3 – Não há no mundo nada melhor distribuído do que o cabeça-durismo.

4 – 42K é quilômetro demais. O caboclo costuma perceber isso um pouco tarde, Inês morta, lá pelo 26K.

4 § 1 – O item 4 pode não ser verdade para certa fração de corredores doravante identificados como ultramaratonistas; eles, não obstante, estão também contemplados no item 3.

VALORES

1 – Corrida é prazer. Ponto. Period. Sem mais.

1 § 1 – Bem-estar, saúde, disposição para o que der e vier, coleção de visões do pôr do sol, de paisagens pastoris absolutamente do cacete e mesmo de áreas urbanas degradadas subitamente tornadas charmosas são consequências do disposto no caput deste tema.

NA VIDA REAL

1 –  Todo caboclo que faz(de novo!) sua inscrição nos 42K quer porque quer chegar ao pórtico final lá no c* do Judas. E pegar sua suada medalhinha, mesmo que mal consiga andar depois disso.

2 – É muito dolorido para esse nosso caboclo retórico admitir que pode ou deve andar, por uns minutinhos que seja, durante a corrida. Afinal ele está ali para correr.

3 – É igualmente penoso para nosso caboclo do caput desta seção admitir que seus tempos de conclusão da maratona podem piorar – o que aliás tende a acontecer à medida que for ficando mais entrado em anos.

DISPOSIÇÕES

1 – É vedado ao caboclo justificar sua inexorável e irrevogável queda de performance com razões de qualquer ordem.

1 § 1 – São elas: ansiedade, falta de sono, falta de alimentação adequada, três horas de trote na véspera, primeiros 14K da maratona percorridos em ritmo inferior com o fito de conversar com amigos e/ou estranhos; e outras razões de natureza similar.

As três horas de trote na véspera com Carlos Dias não irão ser consideradas
As três horas de trote na véspera com Carlos Dias (centro) não deverão ser consideradas

1 § 2 – Admite-se como única exceção ao disposto a justificativa da temperatura senegalesca em qualquer época do Rio de Janeiro, notadamente quando a maratona começar em horário esdrúxulo e mesmo assim sem metrô.

1 § 3 – Utilizada a justificativa discriminada no inciso 2 desta seção, cabe ao caboclo levar em consideração seu histórico pregresso de provas. Se já tiver performado bem em situação análoga, babau.

CONCLUSÕES

1 – O caboclo não deveria se lamentar por fechar uma maratona em pace 6 e pouco.

2 – O caboclo não deveria se lamentar por sucumbir ao “mental” e caminhar por 1 ou 2 minutos em dois ou três trechos, no Leblon e em Copacabana.

3 – O caboclo, de acordo com o item 4 da seção “Premissas”, poderia parar logo com essa brincadeira e deixar de disputar maratonas. Mas ele, caboclo, está contemplado no item 3 dessa mesma seção, o que dificulta um pouco as coisas.

3 § 1 – O próximo “desafio” similar do caboclo é na Serra do Rio do Rastro, em 3 de setembro. Ganho altimétrico bastante significativo (nota do tradutor: pirambeira) a partir do 17K.

APENSOS

O PRIMADO DO PRAZER

GINÁSTICA PARA A CABEÇA

MARATONA: A CRETINICE FISIOLÓGICA

PARE DE DISPUTAR PROVAS DE CORRIDA

CORRENDO COM ABRAMOVIC

ESPECIAL MARA DO RIO: O ULTRA COMEÇOU A CORRER 20 HORAS ANTES

ESPECIAL MARA DO RIO: DEPOIMENTOS SUADOS DE MARATONISTAS

NA NOVA ZELÂNDIA: A PRIMEIRA QUEBRA A GENTE NUNCA ESQUECE

MINHA PRIMEIRA MARATONA, VIVACE: A LOUCURA VEIO NO FINAL

OS VERDADEIROS MARATONISTAS

ABRINDO TUDO/DISCLOSURE Paulo Vieira, editor deste pasquim, teve a passagem para o Rio e duas noites de hotel em Copacabana bancadas pela Tom Tom, uma das patrocinadoras da Mara do Rio; e a inscrição para os 42K bancada pela organização do evento.

 

/ 993 Posts

Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

Deixe seu comentário

Seu e-mail não será publicado ou compartilhado e os campos obrigatórios estão marcados com asterisco (*).

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.