A volta pelas beiradas do ultramaratonista

Paulo Vieira

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LUCIANO PRADO DOS SANTOS começou a correr aos 19 anos, na movimentada década de 80, em São Paulo. Foi um início comum, com aumento progressivo das distâncias, como todos fazemos.

Naquela época pré-pré-pré-assessoria esportiva, dizia-se “fazer cooper” e lia-se o Guia completo da corrida, do americano James Fixx, o homem que morreu correndo.

A MORTE E A MORTE DO HOMEM QUE AMAVA CORRIDAS

VOCÊ GOSTARIA DE MORRER CORRENDO?

O CARDIOLOGISTA NABIL GHORAYEB NUMA CONVERSA DO CORAÇÃO COM O JQC

PRECISAMOS FALAR DA MORTE EM CORRIDAS?

A NOITE MUITO ESCURA DA NIGHT RUN

Depois de cada corrida, a gente ficava com o cooper feito, rezava a piada popular entre nossos familiares, cunhados principalmente. Éramos tão poucos na Selva de Pedra que saudávamo-nos durante a atividade nos canteiros das avenidas.

Mas voltemos ao Luciano. Em algum momento, ele multiplicou muito a duração de suas corridas. Passou a correr 100K, 200K, perto de 300K. E se tornou um atleta de ponta dessas distâncias. Ganhou sua primeira prova de 100K em Uberaba (MG).

Em 2003, já com diversas vitórias nas costas, ele recebeu um convite aparentemente insólito. A fabricante de esteiras Movement chamou-o para “performar” num equipamento da empresa numa feira.

Luciano correu oito horas seguidas, superando em cerca de sete horas – 7 – seu tempo de permanência máximo sobre esteira.

CORRER EM ESTEIRA VALE?

A ESTEIRA SEM MOTOR

A CORRIDA SEM IMPACTO

GINÁSTICA PARA A CABEÇA

Isso é muito estranho, mas ele gostou de correr naquilo. O controle da temperatura ambiente, impossível numa prova outdoor de muitas horas, o fascinou.

Em 2004, ele decidiu quebrar um recorde mundial, o de distância em esteira numa tocada seguida de 24 horas. E conseguiu, cravando 249,64K, 4,5K a mais do que a marca então vigente, do americano Serge Arbona.

Entrou para o Guiness Book, o “livro dos recordes”.

Naquele dia, no Ibirapuera, fez apenas seis paradas para visitar o banheiro, o número máximo permitido segundo as regras dessa competição, ao longo das 24 horas.

Por diversas vezes, nestes 13 anos seguintes, ele tentou quebrar o próprio recorde. Não conseguiu.

Em algum momento, a conta chegou. Há dois anos, operou os meniscos dos dois joelhos, uma decisão da qual se arrepende. “Uns médicos diziam para operar, outros para fazer fisioterapia. Vejo hoje que não devia ter operado”, disse ao JQC, por telefone.

Segundo o atleta não foram os grandes volumes de corrida, mas sim um exercício que praticava, colocar pesos sobre os pés, o responsável pelo problema.

Apesar das muitas vitórias em provas de ultramaratona, Luciano jamais conseguiu viver do esporte. Hoje trabalha no caixa do restaurante da família, na Penha, em São Paulo.

E treina nível peso pluma (para ele), percorrendo 10K seis vezes por semana. Mais no cascalho do que na esteira.

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Luciano é mais um que mostra ser possível correr longas distâncias, até mesmo em esteira. A questão é suportar o estresse mental.

Tá tudo na cabeça.

O problema é que ninguém ensina, nem mesmo aconselha, ao noviço como é possível suportar tantas horas correndo. “Aprendi naturalmente”, ele me disse.

Haja Madadayo.

E quando a gente pede uma dica, um truque, uma mumunha qualquer para aguentar o tranco, eis o que o Luciano diz:

“É fácil, é só pensar que já foi 1K, que já foram 2K, agora 10K, e por isso só faltam 99K, 98K, 90K…”

Luciano já publicou a autobiografia Saber correr até onde chegar e pretende colocar logo na praça um novo título, desta vez abordando também seus problemas físicos.

Pelo que ele me adiantou, se você for aconselhado a operar os joelhos, talvez pense duas vezes depois de ler o livro.

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

4 Comentários

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    Jorge Cerqueira

    Conheço o Luciano grande fera das Ultras, já tive oportunidade de correr ao lado desse feras em algumas ultras, aprendi muito com ele e sou grato a ele pelos ensinamentos. Espero um dia correr ao lado dele novamente. Forte abraço Luciano.
    Paulo Vieira parabéns bor abordar a história desse grande fera aqui nesse espaço e torço muito por ele. Pois adicionei o seu blog no meu se puder adicionar o meu e seguir o meu blog te agradeço.

    Forte abraço,
    Jorge Cerqueira
    http://www.jorgeultra.blogspot.com

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  2. Avatar
    Evaldo Revelino Machado

    Eu comecei no atletismo em 1986 e logo via o Luciano nas provas geralmente com faixa na cabeça,só fui conhecer e ser amigo ano passado
    Luciano ser humano extraordinário espero estar presente na sua volta

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  3. Avatar
    Carlos Aguiar

    Conheço-o exelente pessoa , de muito humildade se da bem com todo mundo …. um forte Abraço -Carlos .

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  4. Avatar
    DEJAIR VIVALDO DA SILVA

    Ontem cortei os cabelos dele, aí conversando me contou um pouco dele, tiramos fotos, realmente pessoa extraordinária. Amizade que realmente vale a pena… Obrigado Luciano Prado por ser tão humilde…

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