Correr na esteira dá pé?

Paulo Vieira

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HÁ CERCA DE QUATRO ANOS, na primeira dentição deste pasquim, perguntei (não tão) retoricamente se correr em esteira valia. Na época ainda trabalhava na editora Arvorezinha, e a editora Arvorezinha ainda vivia seus tempos inacreditavelmente perdulários, locando um edifício inteiro em Pinheiros.

A grana era tanta que a academia Bioritmo vinha de brinde para o locatário.

Ela ficava ao rés-do-chão, logo atrás do quarto chafariz, o que mais fazia a gente imaginar que percorria a esplanada do The Venetian.

Era-me cômodo deixar os afazeres do dia na revista Viagem e Turismo e, já de banho tomado, voltar para casa com o cooper feito.

(gostou dessa, diz aí)

Reagindo ao post, diversos leitores apoiaram minha decisão de correr aqueles 14K em 1:17 numa máquina que não saía do lugar – rapaz, eu era bom nisso.

Dá-lhe core
O editor deste pasquim numa esteira… sem motor

De modo geral, comodidade e segurança eram os argumentos principais, mas o Godinho, que “nunca gostou de correr” e adorava séries de TV, via na possibilidade de assisti-las durante o exercício uma razão, a única, aliás, para correr.

Por outro lado, o Renato Muller foi lapidar: “Esteira para mim é algo insuportável. Prefiro correr na rua com frio e chuva.”

Não fecho completamente com o Renato, pois em dado momento da corrida, já disse isso muitas vezes aqui, a repetição dos movimentos leva a uma interiorização natural em que o estímulo externo é deixado de lado.

É como se praticássemos uma meditação transcendental ambulante, com a vantagem adicional de poder praticar a corrida-transporte do Pinguim.

Mas um pouco de atenção durante a corrida permite vislumbrar coisas maravilhosas do caminho.

Barbeiros voluntários atendendo clientes sem-teto e sem-real no calçadão da XV de Novembro num domingo sonolento qualquer de Sampa; borboletas de muitas cores num singletrack pela Mantiqueira; a visão espetacular da Lagoa e de toda a Zona Sul até as Cagarras no caminho do Cristo desde o Alto da Boa Vista.

CORRER EM ESTEIRA VALE?

UMA CORRIDA SEM IMPACTO

A BIKE QUE É ESTEIRA, OU VICE-VERSA

A ESTEIRA DO TRAMPO

ALGO NÃO ACONTECEU NO MEU CORAÇÃO, FELIZMENTE, NA IPIRANGA COM A SÃO JOÃO

EU QUERO UMA CASA NO CAMPO

O TREINO MAIS LINDO DO MUNDO

CORRENDO COM ABRAMOVIC

CORRIDAS  NO RIO, SAMPA, BEAGÁ E VITÓRIA

CORRENDO NA UMIDADE AMAZÔNICA

NAS DUNAS DE JERI

A CORRIDA COMO SEU PRÓPRIO ÔNIBUS DE TURISMO

Recentemente, a BBC inglesa procurou medir em parâmetros objetivos e supostamente científicos as vantagens e desvantagens de se correr na rua ou na esteira.

Tentarei mostrá-los de maneira esquemática.

CONDICIONAMENTO FÍSICO

EMPATE. Ganho advindo da resistência ao vento da rua pode ser equalizado com inclinação de 1% na esteira.

VELOCIDADE

PONTO PARA A RUA. Por razões bem difíceis de entender, mas que se relacionam com uma certa percepção ótica pouco acurada, o corredor acredita que vai mais rápido do que realmente está na esteira. Isso não acontece na rua. A tendência é ele economizar na esteira, mesmo com o marcador de velocidade nas suas fuças.

POSSIBILIDADE DE LESÕES

PONTO PARA A RUA. Pela mesma razão que um tênis minimalista obriga os grupos musculares dos pés e dos tornozelos a terem uma participação muito mais ativa na própria defesa de seus interesses, a corrida na rua exige muito mais do corpo, fazendo-o mais resistente a lesões.

Mudanças de superfície, desvios, perigos, naturezas diversas de dificuldades a enfrentar: enfim, tudo o que você não vai ter na esteira. Por outro lado, você pode usar mudanças de velocidade e inclinação na máquina para simular um fartlek.

SEGURANÇA

PONTO PARA A ESTEIRA. A não ser que concordemos que a música tocada nas academias seja mesmo um caso de calamidade pública, não há como acreditar que quem corre na rua, à noite ou de dia, sozinho ou sozinha, nas capitais brasileiras está mais seguro.

BEM-ESTAR

PONTO PARA A RUA. Tratou-se de buscar, de novo, parâmetros objetivos para julgar quesito tão subjetivo. Eis o que diz a BBC: “O exercício em ambientes naturais, particularmente em áreas verdes, foi associado a sentimentos mais fortes de revitalização e envolvimento positivo, diminuição da tensão, confusão, raiva e depressão e a um aumento da energia.”

Também acredita-se que a corrida ao ar livre incentiva a continuação da prática esportiva, muito mais que a indoor. “As chances de fazer de novo eram maiores”, diz a reportagem, “mas” [há sempre um mas], “se estas pessoas realmente fizeram mais exercícios ou não é outra questão para ser analisada.”

A reportagem está neste link.

E você, admite correr em esteira?

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

2 Comentários

  1. Avatar
    Marcos Viana Pinguim

    Bom dia Paulo!!! Já consegui correr em esteira, inclusive foi durante uma entrevista com o criativo produtor de conteúdo e de eventos Rafael Zobaran, foi inclusive no vanguardista Programa Papo de Esteira, confira!!! 🙂 (y) http://www.papodeesteira.com.br/papo-de-esteira/papo-de-esteira-com-marcos-viana-pinguim/

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  2. Avatar
    Antonio Bellas

    Caríssimo Paulo!
    Essa é uma sensação subjetivo, mas acho que sou mais rápido na rua.
    Além das vantagens inequívocas de correr com as paisagens desta cidade

    Responder

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