Um brasileiro em Londres

Paulo Vieira

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MOREI POR ALGUNS MESES de 1999 (gulp!) em Londres. A cidade ainda não conhecia as ciclovias nem as catracas das estações de metrô fora da área central, a chamada “Zona 1” – não foram poucas as vezes que deixei de pagar o tíquete quando ia a Wimbledon, por exemplo, torcendo para que o sujeito do lado não fosse o fiscal que me espetaria uma multa de 50 libras.

Ali desenvolvi dois hábitos que mantive na  volta a Piratininga, embora com bastante retardo por aqui: o uso da bicicleta como “modal” de transporte e as visitas constantes às bibliotecas.

Ter uma bicicleta e usá-la em meus deslocamentos por São Paulo era algo que eu sequer considerava no meu retorno, ainda em 1999 (gulp!). Haddad e suas ciclovias ainda estavam por ser inventados, mas a coisa era muito mais insidiosa: era como se não houvesse nem a possibilidade de se pensar o uso de bikes no transporte público no Brasil.

A bicicleta só viraria realidade para mim uns bons dez anos depois.

Com as bibliotecas aconteceu coisa parecida. Em Londres, o hábito é arraigado, e havia uma delas na mesma Old Brompton Road em que eu morava. Ao tirar uma carteirinha de usuário, comecei a achar que ganhava um novo status de cidadão.

LOCAIS PARA CORRER EM LONDRES

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NA COLÔMBIA, COM A SRTA. ENDORFINA

BALOUÇANDO O SALSICHÃO NUMA PRAIA DE NUDISMO

A CORRIDA COMO SEU DOUBLE DECKER DE TURISMO

Poucas pessoas de minha relação sabem que há um sistema de bibliotecas em São Paulo. Tampouco, que é possível consultar todo o  acervo circulante pela internet. Você só perde a viagem se quiser, pois é possível saber se o livro desejado está disponível ou emprestado. Pode-se ficar quinze dias com o título e renová-lo indefinidamente se não houver pedidos para ele.

Não lembro de ter visto o porco
Não lembro de ter visto o porco

Se não é possível comprar livros usados, como em Londres, aqui já há, como lá naquela época, material audiovisual para se levar para casa. Também existe a possibilidade de se ler jornais, embora o Valor Econômico e até mesmo o Estadão tenham sumido de diversas unidades.

Em Londres, ter comprado uma bicicleta num “market”, uma feira ao ar livre de artigos de segunda mão, foi um ato decisivo para de alguma forma “ganhar” a cidade.

E numa pedalada um dia à beira do Tâmisa ter visto sem mais aquela a velha Power Station – que logo tornar-se-ia o segundo museu Tate, a Tate Modern – e reconhecer nela a locação da velha capa do álbum Animals, do Pink Floyd, foi um segundo passo em direção à conquista da tal cidadania.

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Embora eu tivesse corrido por alguns anos na adolescência – e gostado tanto da coisa a ponto de comprar o livro do James Fixx  –, não estava nem aí para o cascalho em 1999.

É uma dívida que um dia acertarei com as imensas áreas verdes da capital inglesa.

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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