Somos corredores neuróticos

Paulo Vieira

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AOS 50 RECÉM-COMPLETADOS, ELE não sabe se vira um tycoon da mídia (palavras dele) ou se pendura as chuteiras. Enquanto isso, comenta naqueles dias e horários indecentes as rodadas das séries A e B do Brasileiro, a Copa do Brasil e o Ramón de Carranza para o SporTV.

Sérgio Xavier, vulgo Treinador, já esteve mais presente nestas páginas – e nesta Sampa do material particulado e do cashmere do largo da Concórdia –, mas sua popularidade crescente lá para o lado de Guaratiba tem-no segurado mais tempo do que o imaginado na Cidade Maravilhosa.

Como ele não consegue mais dar curso a meus insistentes pedidos para tirarmos juntos um lazer no cascalho, decidiu compensar de outra forma.

Ex-diretor de redação da revista Runner’s World, três livros alusivos ao universo da corrida no currículo, titular por  – que sei eu? – uns cinco anos da coluna de corrida de maior repercussão do Brasil, SX passa a escrever mensalmente neste pasquim.

Bem-vindo, Treinador.

ATLETA E TREINADOR

O NOVO LIVRO DE SÉRGIO XAVIER

O JORNALISTA QUE NUNCA CONSEGUE CHEGAR EM PRIMEIRO

SOLONEI E A RIO 2016

PARE DE USAR PLANILHA

CORRIDA: PRAZER OU GUERRA?

O PRIMADO DO PRAZER

A SAGA DE TOURO INDOMÁVEL

OUTRO DIA O GRANDE SOLONEI da Silva falava sobre a dificuldade de correr a meia maratona de SP. Ele explicava que o percurso, com subidas mais evidentes e alguns desníveis quase imperceptíveis, atrapalhava demais a performance do corredor.

E Solonei assim quase que se perdoava por não ir tão bem na prova. Se ele, que é profissional e medalha de ouro na maratona no Pan de Guadalajara, em 2011, é capaz de entender a dificuldade externa e aceitar a diferença de performance, por que nós amadores somos tão exigentes com nós mesmos?

Sim, o amador é um tanto neurótico. O sujeito treina para uma determinada prova pensando em bater o seu recorde pessoal naquela distância. Muitas vezes, nem se preocupa em examinar a altimetria da prova e ver se o percurso é favorável para a obtenção da marca. 

Aí chega no dia da corrida e o clima resolve aprontar uma boa molecagem. Na hora da largada, quase 30 graus. 

O que faz o corredor amador? Senta a bota, tinha pensado em bater o recorde e vai lá tentar bater o recorde. 

Geralmente dá errado. Muita gente não respeita as circunstâncias. Os fatores externos como temperatura, altitude, percurso e umidade não são considerados.

Nos treinos, o mesmo acontece. Está lá na planilha um treino duríssimo de tiro. Na véspera teve o aniversário do Palhares, do almoxarifado. A gente até tentou maneirar, mas ficava chato recusar o chopinho e os croquetes feitos pela dona Dirce, cunhada do Palhares. 

No dia seguinte, acordar já é difícil. Mas o importante é cumprir a planilha e sentar a bota nos tiros. Claro que dá errado. No final das contas, os tiros acabam sendo de festim. 

Porcaria de treino. Não respeitamos aqui as condições internas, o corpo estava prejudicado.

Nem sempre dá para fazer o treino perfeito. Aí o melhor é fazer o treino possível. 

Nem sempre dá pra fazer a prova do recorde, mas dá pra fazer a prova digna. Respeitar as condições internas e externas é sinal de sabedoria. O recorde virá, mas virá na hora certa

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

2 Comentários

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    Sergio Melo

    Peraí, deixa ver se entendi. Estou sendo o primeiro a comentar no novo “correria”? Que honra! Xará, bem vindo de volta ãs colunas de corrida! Espero que esse espaço se torne tão bom quanto foi o “correria” um dia. Quanto à coluna, perfeito. Eu não costumo errar o ritmo no começo quando as condições não são as melhores. Meu problema é a expectativa que eu crio nas semanas anteriores, achando que vou bater RP, mesmo sabendo que a prova não é pra isso… aconteceu na meia internacional do RJ desse ano. Grande abraço.

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  2. Avatar
    Antonio Bellas

    Sergio Xavier esta com blog novo, eh o retorno das minhas duas alegrias : Correria e Jornalistas que correm!!!!!!
    Manda o endereco, gaucho!!!

    Responder

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