Corrida não é sacrifício, é prazer

Paulo Vieira

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ACHO QUE JÁ FALEI DISSO AQUI, mas não custa relembrar: corrida é prazer. P – R – A – Z – E – R.

Não sei se ficou claro: prazer. Seis letras, duas vogais. Rima com tirar um lazer.

Por isso, quando você começar a achar que acordar cedo demais é sacrifício, mas fazer o quê, que correr na chuva não dá, mas vamos lá, que jeito? e, fim da linha, que você é guerreiro por ter terminado a prova de 15 milhas, hora de parar tudo.

Porque desse jeito você vai pegar bode de uma das atividades mais prazerosas que existem, a corrida.

PRIMADO DO PRAZER

CORRIDA NÃO É GUERRA

PARE DE USAR PLANILHA

É PRECISO DESRESPEITAR A MARATONA

ARGUMENTOS PARA EVANGELIZADORES DA CORRIDA 1

ARGUMENTOS PARA EVANGELIZADORES DA CORRIDA 2

Novamente inspirado pelo método socrático e pela dúvida hiperbólica, este pasquim oferece um treino retórico para saber se você gosta mesmo de correr.

E te convida a acabar com essa conversa mole do sacrifício de correr e do sou guerreiro/ ê /ô e finalmente ingressar no verdadeiro Jardim das Delícias que é a corrida cheia de endorfina.

Evoé.

goingfor

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Com o horário de verão agora tenho de acordar quando ainda é noite. Dureza, viu.

É mesmo? Com o mesmo horário de verão, olha só, você pode correr com luz do dia até quase 8 da noite. Muitos parques costumam estender em uma hora seu funcionamento quando chega o horário de verão, caso do Villa-Lobos, em São Paulo. E isso é luxo só, especialmente porque, com endorfina, a happy hour etílica depois da corrida vai ficar ainda mais happy.

Concordo com o que diz aquele cara lá, o Touro Sentado (sic), no pain, no gain.

De fato, como discordar desse Confúcio da Vila Mascote, esse Sidarta Gautama de Americanópolis? Mas Touro – Touro Indomável, não Sentado, aliás – legisla em causa própria. Como sabem os que seguiram sua linda SAGA neste pasquim, ele saiu de longo período de inatividade e caiu direto na ginástica funcional, cuja exigência cardiorrespiratória pode ser bem maior do que a de uma corrida. Treinadores de corrida dizem que é preciso apertar o garrote para haver ganhos físicos na corrida, mas antes disso é preciso gostar de correr. Você não precisa deixar os bofes nas primeiras semanas.

Só sendo muito guerrêro (sic) para atingir os objetivos.

De novo a conversa de objetivos, metas, gols etc. Você precisa mesmo ter metas? Precisa “treinar” para disputar “provas”? Será que não basta correr? Parece uma bizarra questão semântica, mas não é. Relaxe e goze com o prazer caudaloso e inexorável que vem a partir de um certo momento da corrida. Pode ser aos 30 minutos, aos 40, até mesmo antes, caso você aumente o ritmo. E quanto a ser, como é, guerreiro? É esse seu legado para humanidade? Correr uma maratona? Francamente.

Tem dias que dá uma vontade de matar aula, mas o fessô chama logo cedo no whats, os colegas vão estar lá…

Tu dessa idade e ainda acha que tem de dar desculpa fiada para professor de corrida? Pelamor. Se você acha que tem mesmo um compromisso com esse pessoal, que cumpra, mas você realmente precisa de um grupo de corrida para encontrar motivação e disciplina? Tem certeza? Já tentou fazer isso sozinho, com seus próprios pensamentos? Pode ser libertador.

Deixa ver se eu entendi: é para eu matar aula, não acordar cedo quando não tenho vontade e correr sem fazer esforço? É isso? Mas isso vai me levar a algum lugar?

É. A ideia aqui é começar pelo começo: gostando de correr. Isso deve acontecer naturalmente – se não acontecer, definitivamente a corrida não é seu número. Gostando, você mesmo vai querer se propor algum esforço maior (tiro, longos realmente longos, provas, recordes) e, quem sabe, até procurar um treinador. É um caminho sem volta.

Legal. Mais alguma consideração?

Tenho. Se você cresceu numa selva de pedra como São Paulo, Belo Horizonte ou a zona norte do Rio talvez não tenha tido oportunidade de frequentar um parque, ter uma área verde para chamar de sua. Pense o que significa isso. Pois agora, correndo, você vai ter. Ela pode nem estar tão perto, quem sabe a 3 ou 4K de sua goma. E isso vai ser bom, pois chegar lá é só o aquecimento. Ter um parque só seu quando se é adulto é apenas um dos ganhos colaterais da corrida.

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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