No Quênia

Paulo Vieira

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A reportagem foi ao ar há mais de dois meses, no programa Esporte Espetacular (Globo). Ela está na íntegra aqui e também mais abaixo, embebida no post. A entrevista que eu fiz por telefone com o jornalista Cauê Dias, um dos artífices da proeza, foi antes do Carnaval.

Estou, destarte, no timing da internet: se as coisas são consumidas na velocidade de um tuíte, não faz muita diferença dar a parada no laço ou uma cara depois, com mais vagar.

Cauê, produtor e editor de vídeo, e o repórter Guilherme Roseguini foram ao Quênia tentar desvendar o segredo do sucesso dos locais nas provas de fundo do atletismo.

 

Lá vem eles/Foto: Cauê Dias
Lá vem eles/Foto: Cauê Dias

Para quem não tem paciência, segue um spoiler. Eis as respostas:

– Anatomia. Os quenianos corredores, que são quase exclusivamente o povo kalenjin, vivem em montanhas a 2 000 metros acima do nível do mar e têm pernas longas com canelas finas e leves.

– Treinos coletivos e grande vontade de correr. São três sessões diárias em ritmo forte. E sempre todos juntos. Média de 200K semanais.

Ouvido pela equipe, o médico italiano Gabrielle Rosa, que chegou ao Quênia em 1990, quando o país ainda não tinha tradição na maratona, diz ser esse o principal fator.

“Se você pedir a um italiano para correr 15K, ele provavelmente vai fazer 14K. Se pedir para um queniano, ele vai para 20K, pois gosta de desafio (…) Corrida é um esporte individual na competição, mas coletivo nos treinamentos”, disse à Globo.

– Condição econômica. “Andamos por lugares paupérrimos”, me disse Cauê. Para localizar, a riqueza per capita brasileira é sete vezes maior que a queniana. Tal como o futebol aqui, a corrida pode trazer ascensão social.

A reportagem mostra  uma corrida com cerca de 3 mil crianças acima de seis anos. Muitos descalços, muitos com roupas nada apropriadas. Mas correndo em intensidade apocalíptica para tentar levar para casa sacos de arroz e batata ou o grande prêmio: uma vaca.

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Ao desembarcar em Nairóbi, a capital queniana, a equipe não encontra ninguém correndo. Então pega um carro para viajar rumo oeste, para as alturas do Vale do Rift. Lá vão conhecer os kalenjin, os quenianos corredores.

Cauê e Guilherme chegam tarde da noite e têm de controlar a ansiedade para o dia seguinte. Horas depois, como num safári, em que é preciso se antecipar ao sol, os brasileiros pulam da cama. Eles contam:

“Assim que o sol começa a se erguer no horizonte já é possível avistá-los. São grupos enormes, surgindo de todos os lados, rasgando as estradas de terra da região. Não é preciso entender muito de corrida pra perceber que o ritmo deles é alucinante, muito diferente do que estamos costumados a ver.”

NA ÁFRICA DO SUL

A CRETINICE FISIOLÓGICA DA MARATONA, SEGUNDO IBERÊ DIAS

A CORRIDA E A REPRESSÃO MILITAR

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Mesmo vendo mais corredores do que elefantes em parques privados da África do Sul e mesmo tendo ficado oito dias no Quênia, Roseguini e Dias só conseguiram dar uma corrida na hora de voltar. Ambos conhecem do metiê: Cauê tem respeitabilíssimo 42:07 para os 10K e Guilherme performou ainda melhor: é 11 segundos mais rápido.

Se os quenianos melhoram com o treino coletivo por ter colegas sempre por perto para desafiá-los, Cauê tem condições objetivas parecidas. Seu irmão é o juiz voador Iberê Dias, maratonista sub 3h e com 10K “para” 35 minutos.

Mas o amigo da Globo gosta mesmo é do soçaite que antecede o churrasco.

 

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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