É preciso desrespeitar a maratona

Paulo Vieira

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Maratonistas experientes quando falam da mítica prova de 42K para uma audiência de neófitos costumam usar palavras como “estratégia” e “respeito”. Soam quase como mantras, e nem sempre, melhor dizendo, quase nunca são bem explicadas.

Se entendo o que os veteranos querem dizer, tem algo a ver com não sair soltando a cavalaria no começo, não entrar com os quatro pés na porta nos primeiros 15K. Supostamente o corpo vai cobrar o esforço lá pela terceira hora, quando o “muro” chegar.

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ATLETA E TREINADOR

É canônico entre os especialistas que há um desgaste das nossas reservas energéticas, mas Iberê Dias, o juiz voador, maior especialista de corrida desta quadra e deste quadrante, explicou ontem que também as fibras musculares, desgraça pouca é bobagem, vão para o vinagre.

Maratona, para ele, contumaz maratonista, é uma “cretinice fisiológica”.

Mas o que eu tenho a dizer hoje é que essa história de respeito é, com todo o respeito, conversa para boi dormir. O que isso significa? Que o maratonista irá morrer como o combatente grego que deu nome à série? Ora, não há nenhum demérito em simplesmente parar de correr, se o corpo assim exigir.

Claro, que, se você não estiver na sua cidade ou no seu país, convém ter um cartão de crédito ou de transporte coletivo local, providência, aliás, tomada por muita gente em treinos ordinários.

Eu já caminhei por um ou dois quilômetros numa meia do Rio, lá no começo, e não me sentiria muito feliz em ter de caminhar de novo nos 42K da Mara de São Paulo de abril, mas não vou considerar esse fato, se ocorrer, o maior fracasso da minha vida.

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Posto isto, gostaria de trazer algumas palavrinhas de incentivo de Treinador, vulgo Sérgio Xavier, ex-colunista da Runner’s World, três livros publicados sobre corrida, que já está no seu segundo dígito em termos de maratonas realizadas.

Ele fala de sua primeira maratona, Porto Alegre, 2003, fechada com sofrência em 4 horas e carqueirada.

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TELMA, NÃO SOU TARAHUMARA

Tinha machucado o joelho semanas antes. Já achava que não ia dar. No 10K o joelho começou a doer. Tive a certeza que não ia dar. Se no 10 era aquilo, e depois? Primeira maratona, pouca experiência de corrida. Não sabia que dores e sensações, positivas ou negativas, vão e voltam.

Segui porque corria ao lado de um amigo, o Leão. Só por isso. Lá pelo 30K, as minhas dores de joelho tinham que passado. Doíam outras partes. Já Leão se arrastava. Botei pilha nele, vamos que dá. Deu. 4:23. Ainda bem que não desisti. Não é sempre que dá, tem lesão insuportável mesmo. Mas quase sempre dá.

Eu morria de medo dos 10 quilômetros finais. Se chegava no bagaço no fim do treino de 32K, como não seria o resto? Num dado momento, parei de pensar nisso. Já tinha uma lesão de joelho pra me preocupar. No final das contas, não lembro das dores, só da picanha na churrascaria depois. É o que fica.”

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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