Maratonista fala sobre sua luta contra o câncer em novo livro

Julia Zanolli

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Deborah de Aquino já era corredora escaldada e fenômeno virtual quando recebeu o diagnóstico de câncer de mama, no final de 2013. A doença transformou sua paixão pela corrida em uma grande aliada na luta contra o câncer.

O resultado dessa jornada deu origem ao livro “Num Piscar de Olhos”, que será lançado pela Editora Gregory nesta quarta-feira (15), em São Paulo. O evento acontece na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Avenida Paulista, 2073) a partir das 19 horas.

A dentista completou a maratona de Berlim de 2013 em 3h26, já desconfiada dos caroços na mama que teimavam em se multiplicar. O Blog da Debs, canal criado após o nascimento de sua filha Duda, até então falava sobre o desafio de manter a forma depois da gravidez e já tinha milhares de seguidores.

Deborah cruzando a linha de chegada nos 42 K
Deborah cruzando a linha de chegada nos 42 K

Deborah decidiu então compartilhar sua luta no blog e se tornou uma referência nas redes sociais, com mais de 90 mil seguidores no Instagram. Deborah retirou as duas mamas, passou por quimioterapia e manteve uma rotina de exercícios físicos ao longo de todo o tratamento.

Abaixo, ela fala sobre a luta contra o câncer e sua relação com a corrida.

Jornalistas que Correm: Qual era sua relação com a corrida antes do diagnóstico?
Deborah de Aquino: Corro há mais de 10 anos e sou apaixonada pelo esporte. Sempre digo que a corrida pode te salvar de inúmeras situações na vida, desde a depressão até uma doença grave como o câncer. Correr me ensinou a ter disciplina, persistência e paciência. Não dá para correr 42 K sem antes correr 10 K, então você aprende a dar um passo de cada vez.

JQC: De que forma o câncer mudou a sua relação com o esporte?
DA: Desde que comecei a correr sempre fui muito competitiva e busquei superar limites. Treinava feito uma maluca, não parava para ver o nascer do sol, para olhar as pessoas, para cumprimentar. Hoje, depois de tudo, vejo as coisas de forma diferente. Claro que quero bater minhas metas, mas não tenho mais a neura de não “poder” parar um treino no meio para tirar uma foto ou mesmo para agradecer por estar tendo a chance de ver um amanhecer lindo. Corro sorrindo, falo com todo mundo, depois do treino me dou a chance de parar, conversar e conhecer novas pessoas, outras histórias. Antes a corrida era minha vida. Hoje, ela é um pedaço dela.

JQC: Quais foram os principais benefícios que a corrida trouxe nesse processo?
DA: A corrida me trouxe a calma e a clareza para enxergar tudo de uma forma diferente. No livro, eu faço uma analogia com a maratona de Berlim [que ela completou meses antes do diagnóstico]. Assim como na prova, onde você não sabe como seu corpo vai responder, a quimioterapia é um processo desconhecido. Então, eu procurava enxergar o tratamento como uma corrida: um quilômetro por vez, sempre focada na linha de chegada. Sempre resolvendo os imprevistos à medida que eles fossem aparecendo, sem sofrer por antecipação.

JQC: Quais foram as alterações na sua rotina de treinamento por conta do câncer e do tratamento?
DA: Corri até a terceira sessão de quimioterapia, depois, começou a se tornar um fardo. Então, me encontrei em outros esportes como a bike e a natação – menos “agressivos” para o corpo e que garantiam uma dose diária de endorfina. Depois do tratamento voltei a correr muito devagar, como se nunca tivesse corrido na vida. Mas o mais legal é que o nosso corpo é uma máquina tão perfeita que a memória muscular não some. Em dois meses eu estava fazendo uma meia maratona e oito meses depois da quimio estava em Boston correndo a maratona.

JQC: Seu objetivo com o livro é ajudar outras pessoas enfrentando situações semelhantes, certo? Qual foi a principal lição que você aprendeu depois de vencer essa luta?
DA: Durante o tratamento conheci muitas mulheres que estavam na mesma situação que eu. E o que observei é que todas tinham o mesmo perfil emocional. Hoje, muitos médicos já aceitam que o câncer possa ter causas emocionais. Eu quero que pessoas abram os olhos para as consequências de viver uma vida com muitos pontos mal resolvidos. Acredito que a vida vai nos enviando sinais, quando a gente não ouve isso ela manda um alerta definitivo para que possamos reavaliar tudo. Depois do câncer aprendi a lição mais importante da minha vida: ser grata.

Eu agradeço por ter tido câncer e encaro como um “presente”, porque foi a doença e todo o tratamento que me fizeram reavaliar meus valores, minhas prioridades. Hoje não tenho mais pressa em abraçar o mundo com a pernas. Dou muito mais valor às coisas pequenas do cotidiano. Eu sei que as pessoas muitas vezes só se dão conta disso passando por uma situação difícil, mas meu sonho é que outros possam aprender com o que passei. Aprender a agradecer mais, reclamar menos e dar valor aos pequenos “grandes” momentos.

 

 

 

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Julia Zanolli

Julia Zanolli começou a correr em nome do bom jornalismo quando foi trabalhar na revista Runner’s World sem entender nada do assunto. A obrigação virou curtição, mesmo depois de sair da revista. Se livrou do carro para poder andar a pé pela cidade, mas é fã assumida de esteira. Prefere falar de comida do que de nutrição e acha que ter tempo é muito melhor do que matá-lo.

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